Grécia: Escândalo das escutas ilegais dominou debate entre candidatos

11 de maio 2023 - 20:27

No único debate televisivo entre os líderes dos seis maiores partidos antes das legislativas de 21 de maio, o primeiro-ministro grego admitiu que não havia razões de segurança que justificassem a vigilância das comunicações do líder do PASOK.

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Candidatos dos seis maiores partidos no debate televisivo.
Candidatos dos seis maiores partidos no debate televisivo. Foto Syriza/Facebook

"O sr. Androulakis não coloca risco absolutamente nenhum à segurança nacional e nunca devia ter estado sob vigilância", admitiu o primeiro-ministro grego e líder da Nova Democracia Kyriakos Mitsotakis no debate televisivo desta quarta-feira entre os líderes dos maiores partidos.

O escândalo da vigilância eletrónica dos serviços secretos controlados pelo gabinete do primeiro-ministro contra jornalistas, políticos da oposição e do próprio governo de Mitsotakis ficou conhecido como o "Watergate grego" e desencadeou uma investigação por parte do Parlamento Europeu, pois Nikos Androulakis era também eurodeputado e foram os serviços do Parlamento Europeu que analisaram o seu telemóvel e comprovaram a presença do software espião. Ainda esta semana, uma comissão especial do Parlamento Europeu apelou ao governo grego para dar explicações sobre o escândalo, considerando-o um duro golpe contra o estado de direito naquele país.

Já esta quinta-feira, Nikos Androulakis voltou a comentar as palavras de Mitsotakis, considerando que ao reconhecer que ele não representa um risco de segurança está a admitir que conhece a verdadeira razão para ter sido posto sob escuta, coisa que Mitsotakis sempre negou. O líder dos socialistas gregos apelou ainda a que a investigação ao escândalo convoque o antigo líder do serviço de informações EYP e do procurador que autorizou a vigilância com o argumento da segurança nacional a testemunharem sobre qual terá sido a razão que deu origem a essa vigilância de que foi alvo.

Durante o debate foram discutidas questões como a situação económica do país, com Mitsotakis a atacar as propostas do líder da oposição e do Syriza, Alexis Tsipras, para aumentar os salários dos funcionários públicos e em particular da Saúde e para baixar os impostos. Também a questão dos fundos que compraram as dívidas incobráveis dos bancos e agora tentam expulsar os devedores das suas casas esteve em cima da mesa, bem como a política externa e de segurança, em particular o conflito com a Turquia sobre a jurisdição das águas territoriais.

Nova Democracia lidera intenções de voto em eleições sem "bónus" para o partido mais votado

Nas sondagens, a Nova Democracia (36%) lidera as intenções de voto com uma vantagem de cerca de sete pontos sobre o Syriza (29%), que tem vindo a reduzir-se nos últimos meses. Os socialistas do Pasok seguram a terceira posição com 10%, seguindo-se os comunistas do KKE com 7%, o Mera25 do ex-ministro Varoufakis com 4,5% e a extrema-direita da Solução Grega com 4%, que espera beneficiar da proibição de ir a votos do partido formado por um ex-dirigente da desmantelada Aurora Dourada a cumprir pena de prisão.

Esta eleição, ao contrário das que se realizam desde 1980, não terá o habitual bónus de 50 deputados para o partido mais votado, graças à alteração da lei eleitoral promovida durante o governo do Syriza. No entanto, essa alteração foi revertida pelo atual Governo, pelo que a próxima eleição já contará com um sistema de bónus destinado a beneficiar sobretudo o partido vencedor, mas também os que obtenham mais de 25% dos votos.

E o cenário de novas eleições surge como um dos mais prováveis, caso na noite de 21 de maio e nos dias seguintes não seja possível encontrar uma solução de governo com apoio maioritário no Parlamento. Alexis Tsipras já lançou o desafio aos outros três partidos da esquerda, mas admitiu no próprio debate que não prevê grandes aproximações até ao fecho das urnas.

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