Desigualdade

Grandes empresas alimentares vendem produtos menos saudáveis nos países mais pobres

09 de novembro 2024 - 13:20

Um estudo recente analisa esta desigualdade promovida por algumas das maiores empresas mundiais. Para além disso, também se debruça sobre como a alimentação processada tornou a obesidade um fenómeno global em aceleramento, defendendo “mudanças fundamentais” no sistema alimentar global.

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Supermercado. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado.
Supermercado. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado.

As maiores empresas do mundo do setor da alimentação e das bebidas vendem produtos menos saudáveis nos países com rendimentos mais baixos do que naqueles com rendimentos mais elevados.

A análise que leva a esta conclusão surge no relatório Global Access to Nutrition Index deste ano feito pela organização não governamental Access to Nutrition Initiative que apresenta como seu objetivo “acelerar o acesso a alimentação nutritiva a preços comportáveis para toda a gente, especialmente para as sociedades mais vulneráveis”.

30 das grandes empresas alimentares, entre as quais a Nestle, a Pepsico e a Unilever, praticam esta discrepância, avaliada a partir do sistema Health Star Rating que avalia se os alimentos são saudáveis numa escala de zero a cinco.

Descobriu-se que os produtos das multinacionais nos países de baixos rendimentos atingiam uma média de 1,8, enquanto nos países de altos rendimentos a média era de 2.3.

À agência noticiosa Reuters, Mark Wijne, diretor de investigação na ATNI, considera que o estudo dá “uma imagem muito clara de que o que estas empresas estão a vender nos países mais pobres do mundo, onde estão em mais número e mais ativas, não são os seus produtos mais saudáveis”. A avaliação poderá assim servir como um alerta para que os “governos nestes países estejam vigilantes”.

Este índex não era publicado desde 2021 e é a primeira edição em que se analisa a diferença entre países de baixos e de elevados rendimentos.

A ATNI apresenta o documento também como importante para compreender outra dimensão: como a alimentação processada tornou a obesidade um fenómeno global em aceleramento.

Defendem-se ainda “mudanças fundamentais” no sistema alimentar de forma a acabar com todas as formas de má nutrição. E vinca-se que nenhuma das empresas analisadas “proíbe totalmente marketing da alimentação não saudável para as crianças com menos de 18 anos em todos os seus canais de marketing e técnicas”.

Para além disso, apenas 30% das empresas apresenta uma estratégia para fazer com que os seus produtos “mais saudáveis” possam ser mais acessíveis em termos económicos a consumidores com rendimentos mais baixos.

O estudo é feito a partir de informação partilhada pelas empresas ou de domínio público o que é uma limitação reconhecida pelos autores.

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