Após o Negócios ter publicado durante a tarde as declarações de Teixeira dos Santos, nas quais o ministro das Finanças defendeu que “o país foi irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros” e que, perante esta “difícil situação”, “é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política”, José Sócrates veio anunciar ao país, já no final do dia, que o governo enviou um pedido de assistência financeira à Comissão Europeia (CE) para garantir as condições de financiamento da economia portuguesa.
O primeiro-ministro demissionário defendeu que “chegámos ao momento em que não tomar essa decisão” teria consequência muito nefastas para a economia portuguesa e que o que está em causa é o “interesse nacional”.
José Sócrates afirmou que a “negociação do pedido” terá os “menores custos possíveis para Portugal e para os portugueses”.
Pedro Passos Coelho, líder do PSD, ao reagir às declarações de José Sócrates, afirmou que considera o pedido de ajuda “tardio” e anunciou o seu apoio ao PS na negociação da ajuda da CE.
Governo “desistiu do principal compromisso assumido perante os portugueses”
Francisco Louçã, coordenador da Comissão Política do Bloco de Esquerda, acusou o governo de desistir do “principal compromisso assumido perante os portugueses” ao recorrer ao financiamento da CE.
O deputado do Bloco contrariou também o argumento - a não aprovação do Programa de Estabilidade e Crescimento 2011-2014 (PEC 4) - utilizado por José Sócrates para justificar esta medida. Francisco Louçã lembrou que o valor em causa no PEC 4 é um valor ínfimo face ao valor total da dívida e esclarece que o que está realmente em causa são “problemas especulativos”.
O dirigente do Bloco recordou ainda que nos últimos 10 anos a dívida portuguesa duplicou e que esta é a terceira recessão na década em que estamos a viver. O que “é novo”, afirmou Louçã, é a cedência do governo aos mercados internacionais e à pressão exercida nos últimos dias pelos principais banqueiros do país.
Francisco Louçã lembrou também que o mesmo governo que agora anuncia a ajuda externa como necessária rejeitou as propostas do Bloco de resposta ao endividamento e foi também o mesmo governo que pagou mil milhões de euros pelos submarinos, e permitiu que a PT não pagasse em impostos esse mesmo valor.
O coordenador da Comissão Política do Bloco de Esquerda defendeu que é necessário um enorme esforço de combate contra as dificuldades e contra o estrangulamento de uma recessão contínua que, “como os portugueses bem se lembram”, decorre da intervenção do FMI no nosso país em 1983/84.
Louçã anunciou ainda que o Bloco apresentará nos próximos dias um plano de resposta ao endividamento.