Em Itália, a agência de proteção de dados acaba de sancionar a Foodinho, sociedade do grupo Glovo, ao pagamento de uma multa no valor de cinco milhões de euros por processar ilegalmente os dados pessoais de 35 mil estafetas através da sua plataforma digital. Além de outras sanções, a mesma autoridade proibiu o uso da tecnologia de reconhecimento facial para a verificação da identidade dos estafetas na aplicação.
Espanha
Glovo condenada a integrar mais de três mil falsos trabalhadores independentes
A investigação teve início após as notícias sobre a desativação da conta de um estafeta que morreu num acidente de viação durante uma entrega em 2022 e das denúncias publicadas na plataforma Tracking Exposed no ano passado acerca das inúmeras violações da proteção de dados dos trabalhadores da Glovo.
A investigação concluiu que a Foodinho enviava a entidades terceiras os dados pessoais dos estafetas, incluindo a sua geolocalização mesmo que não estivessem a trabalhar. Até agosto de 2023, a informação sobre a localização destas pessoas era partilhada mesmo quando a aplicação não estava ativa. Além de outras violações do regulamento europeu de proteção de dados, a empresa foi sancionada também por enviar apenas uma mensagem-tipo ao desativar ou bloquear a conta de qualquer estafeta, sem dar informação de como este poderia contestar a decisão ou reclamar a reabertura da sua conta.
Comportamento da Glovo “não é um caso isolado”
A sucursal da Glovo em Itália foi condenada a reformular estas mensagens e garantir que as decisões tomadas pelo algoritmo são verificadas por operadores com formação para tal, bem como inserir um ícone no telemóvel que mostre aos estafetas quando o GPS está ativado ou desativado quando a aplicação está a correr em fundo.
O portal El Salto tinha divulgado no ano passado a investigação da Tracking Exposed e um dos analistas de algoritmos e fundador desta equipa, Claudio Agosti, afirmava que como a aplicação usada pela Glovo é a mesma em todo o mundo, “suspeitamos que estejam a fazer exatamente o mesmo noutros países”. E acrescenta que este comportamento “não é um caso isolado”
A equipa de técnicos informáticos pertence ao grupo Reversing.Works, que vê nesta prática “um exemplo preocupante de gestão digital descontrolada” e um sinal de “uma tendência mais ampla dentro da economia colaborativa, em que as plataformas dão prioridade à monitorização e controlo dos trabalhadores em detrimento do seu bem-estar”.
Para Gaetano Priori, investigador principal de Reversing.Works, é surpreendente que os sindicatos ainda não tenham usado estas ferramentas para desmascarar as práticas das empresas de plataformas digitais. A explicação que encontra é que “a privacidade é um direito individual, pelo que não tem sido vista como um instrumento de luta dos trabalhadores”. Mas lança o desafio aos sindicatos para que usem estas ferramentas e explorem as proteções que as leis nacionais de proteção de dados conferem aos cidadãos para conseguirem “condições de trabalho mais justas”.