Os glaciares vão demorar séculos a recuperar do degelo, mesmo com uma intervenção humana que consiga impedir as alterações climáticas devido a efeito humano. É isso que demonstra um estudo publicado esta segunda-feira na Nature Climate Change como parte de um projeto que estuda o impacto dos “excessos” climáticos quando o aquecimento do planeta ultrapassar a fronteira dos 1,5ºC.
Num cenário em que se atinja um aumento de 3º C por volta de 2150, mesmo com um arrefecimento previsto para 1,5ºC até 2300, os glaciares perderão mais 16% de massa glaciar até 2200 e mais 11% até 2500 do que num cenário em que o aquecimento se estabilize nos 1,5ºC. Mas mesmo neste cenário os glaciares derreterão mais 35% do que com as temperaturas atuais.
Neste momento, o mais provável é mesmo o primeiro cenário, com um aumento de temperatura que chegue até aos 3ºC. Segundo, Fabien Maussion, professor associado da Universidade de Bristol, uma das universidades que conduziu o estudo, esse cenário é tornado possível devido às “políticas climáticas atuais”.
“É uma pergunta que muitas pessoas fazem, se os glaciares voltarão a crescer durante a nossa vida ou durante a vida dos nossos filhos? As nossas descobertas indicam que, infelizmente, não”, alertou o investigador. Na verdade, temos registado sucessivamente os anos mais quentes na Terra, com o ano de 2024 a ser o primeiro ano civil a ultrapassar a marca dos 1,5ºC.
Alterações climáticas
Continente europeu é o que aquece mais rapidamente e efeitos sentem-se
Ultrapassar os 1,5ºC significará também a desregulação permanente dos ecossistemas terrestres, com consequências difíceis de prever, aumento de fenómenos climáticos extremos, destruição de habitats e escassez de recursos. O degelo dos glaciares em particular terá efeito particularmente nos ecossistemas montanhosos e nas comunidades que lá habitam, uma vez que a sua água é vital para as comunidades a jusante, especialmente durante as estações secas.
Os modelos utilizados no estudo mostram que os grandes glaciares polares levariam muitos séculos ou mesmo milénios a recuperar de um excesso de 3ºC. Os glaciares mais pequenos nos Alpes, Himalaias e Andes tropicais terão uma recuperação mais célere, mas mesmo assim não nas próximas gerações.