Gaza: igreja católica, hospitais e campos de refugiados atacados

18 de dezembro 2023 - 17:14

O último número de mortes é de 19.453 pessoas. Papa Francisco condena o ataque “terrorista” de Israel que vitimou duas mulheres numa igreja em Gaza. Numa base militar israelita, vários detidos morreram em circunstâncias não explicadas e centenas passam o dia algemados e vendados.

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Exército israelita ataca campo de refugiados de Nussairat. Foto de MOHAMMED SABER/EPA/Lusa.
Exército israelita ataca campo de refugiados de Nussairat. Foto de MOHAMMED SABER/EPA/Lusa.

O último balanço do número de mortes causadas por Israel em Gaza desde o início desta fase da guerra é de 19.453 pessoas, 7.729 das quais crianças. O Ministério da Saúde de Gaza acrescenta que o número de feridos atinge as 52.286, dos quais 8.663 são crianças.

Entretanto, o papa Francisco condenou o ataque “terrorista” de Israel contra a igreja da Sagrada Família, em Gaza, que causou a morte de duas mulheres, uma idosa, Nahida Khalil Anton, e a sua filha Samar. Durante o fim de semana, a igreja onde estão abrigadas famílias refugiadas esteve sob forte bombardeamento israelita. O mais alto dignitário católico declarou que lhe continuam a chegar “notícias muito graves e dolorosas de Gaza” e que “civis desarmados são alvo de bombardeamentos e disparos”. Na igreja atacada, sublinha “não havia terroristas mas famílias, crianças, pessoas doentes ou incapacitadas, freiras”. “Alguns dirão “é guerra”. É terrorismo”, concluiu.

Os hospitais da região também continuam a ser alvo. A Aljazeera dá conta de que um dos ataques mais recentes do exército sionista, ao hospital de al-Shifa, causou mais quatro mortes que se somam às 26 de um ataque anterior. Uma equipa da Organização Mundial de Saúde que conseguiu chegar ao local no sábado já tinha então descrito o que ali se passava nas urgências como “um banho de sangue”. No domingo tinha sido a maternidade do complexo médico Nasser, em Khan Younis, onde foi morta Dina Abu Mehsen, uma rapariga de 13 anos, e houve várias outras feridas.

O Ministério da Saúde palestiniano pede ainda uma investigação aos vários relatos de que bulldozers israelitas arrastaram as tendas das pessoas que se encontravam refugiadas no pátio do hospital Kamal Adwan causando um número ainda desconhecido de mortes.

Para além disso, há notícia de muitas baixas nos campos de refugiados de Jabalia e Nuseira, assim como em zonas residenciais de Shujayea, Tuffah e Daraj.

New York Times denuncia que governo israelita soube de um fundo de investimento que financiava o Hamas, mas não ligou ao assunto

Este domingo, o New York Times descobriu que a Mossad tinha tido acesso a documentos que mostravam como um fundo de investimento privado financiava o Hamas. Um ex-oficial dos serviços secretos declarou que informou “pessoalmente” Netanyahu sobre a carteira de investimentos, “mas ele não lhe ligou”.

A resposta oficial israelita chegou esta segunda-feira através de uma declaração do gabinete do primeiro-ministro, em nome da Mossad, em que se garante que o país agiu contra a transferência de fundos para o Hamas “sob a direção do primeiro-ministro”.

Vários palestinianos mortos numa base militar israelita

O jornal israelita Haaretz noticia esta segunda-feira que centenas de palestinianos presos durante esta fase da guerra são mantidos vendados e algemados durante grande parte do dia, ficando sob luzes ligadas à noite, na base militar israelita de Sde Teiman e “vários” morreram em circunstâncias que estão por esclarecer.

Os detidos são considerados suspeitos de envolvimento em terrorismo. O exército israelita diz que, os presos, que não têm direito a julgamento, são interrogados e os que são considerados inocentes são “devolvidos” à Faixa de Gaza, sendo os restantes transferidos para o sistema prisional israelita.

Acrescenta-se no artigo que os presos estão a dormir no chão em colchões muito finos e estão distribuídos por quatro instalações diferentes, cada uma das quais com lugar para 200 pessoas.

Se as condições dos detidos palestinianos já eram denunciadas antes desta fase da guerra, depois dos ataques de 7 de outubro foram pioradas através de vários regulamentos de emergência que possibilitaram condições mais rígidas e prazos mais alargados, sem qualquer acesso a um sistema judicial já de si injusto. Até agora, apenas 71 habitantes de Gaza presos depois do ataque do Hamas a Israel foram presentes a juízes em Be'er Sheva. Todos os casos resultaram na decisão de continuação da detenção. Voltarão de seis em seis meses para o caso ser reapreciado. É o próprio exército sionista que estima que, das centenas de presos, apenas 10 a 15% estão “associados” ao Hamas.

A fome como arma de guerra

Num comunicado divulgado esta segunda-feira, a Human Rights Watch acusa o governo israelita de “usar a fome de civis como método de guerra na Faixa, o que constitui um crime de guerra”. As suas forças armadas estão a “bloquear deliberadamente a distribuição de água, comida, combustível, impedindo ao mesmo tempo deliberadamente a assistência humanitária, aparentemente arrasando zonas agrícolas e privando a população civil de objetos indispensáveis à sua sobrevivência”.

A organização de defesa dos direitos humanos destaca que vários governantes israelitas, como o ministro da Defesa, o da Segurança Nacional e o da Energia, fizeram declarações públicas no sentido de explicitar que o seu objetivo é “privar civis em Gaza de comida, água e combustíveis”. Outros responsáveis do Estado sionista têm dito que a chegada de ajuda humanitária estaria condicionada à libertação de reféns ou à destruição do Hamas.

A organização entrevistou onze palestinianos deslocados, entre 24 de novembro e 4 de dezembro, que descreveram as circunstâncias em que têm sobrevivido. Um deles conta que no norte de Gaza não há acesso a alimentos, eletricidade ou internet. Outro, do sul do território, descreveu a falta de água potável, a escassez de alimentos que implica lojas vazias, filas imensas e preços exorbitantes. De acordo com o Programa Alimentar da ONU, no seu relatório de 6 de dezembro, nove em dez lares no sul de Gaza passaram pelo menos um dia e noite inteiros sem acesso a qualquer alimento e que 48% dos lares no norte e 38 dos deslocados no sul vivem “graves níveis de fome”.

Os bombardeamentos israelitas continuam a atingir os recursos necessários para combater a fome. A 15 de novembro foi destruído o último moinho de trigo que estava operacional em Gaza, foram igualmente destruídas padarias, instalações agrícolas, de água e de saneamento”. O sistema agrícola deixou de funcionar, com colheitas abandonadas ou destruídas e sem água, o gado no norte está a enfrentar fome

Omar Shakir, dirigente da HRW para a região, afirma que “o governo israelita está a agravar a sua punição coletiva dos civis palestinianos e o bloqueio da ajuda humanitária através da utilização cruel da fome como arma de guerra” e que “o agravamento da catástrofe humanitária em Gaza exige uma resposta urgente e eficaz da comunidade internacional”.