Ao contrário do que é habitual em processos de insolvência, a lista dos maiores credores no processo de insolvência da Printer Portuguesa, divulgada esta terça-feira pelo Expresso, não inclui nenhuma instituição bancária. Os maiores credores são dois fundos das Bahamas e um deles é bem conhecido dos portugueses: o World Opportunity Fund, que adquiriu ao grupo Bel, do empresário Marco Galinha, uma posição de controlo na Global Notícias, desfeita há poucas semanas por imposição do regulador devido à falta de transparência acerca dos seus reais proprietários e ao fim de muita pressão pública em defesa de alguns títulos históricos da imprensa portuguesa ameaçados pela sua gestão.
Perfil
Quem é o oligarca angolano que trancou 120 trabalhadores fora de fábrica em Sintra
Além do World Opportunity Fund, com 2.881 milhões de euros, há outro credor das Bahamas e com exatamente o mesmo montante de créditos reclamados. Chama-se Sithma, foi criado em 2019 e segundo o Expresso tem a mesma morada e é representado pelo mesmo advogado. Também não se sabe quem o detém, mas será este fundo a assumir a presidência da Comissão de Credores. Ambos os fundos financiaram a empresa de Sobrinho mediante hipotecas sobre o imóvel de Rio de Mouro onde funcionava a gráfica.
Audição
Sobrinho foi ao Parlamento atacar o Bloco e deixou trabalhadores da Printer sem respostas
O próprio Álvaro Sobrinho é o terceiro maior credor da Printer Portuguesa, a gráfica de Sintra que teve a sua atividade interrompida este ano, com os cerca de 120 trabalhadores afastados dos seus postos de trabalho e impedidos de entrar nas instalações, com a empresa a alegar razões de segurança. Sobrinho alegou sempre que na origem da insolvência não esteve a má gestão da empresa, mas o facto de terem arrestado as contas bancárias no âmbito do processo judicial relativo ao BES Angola, no qual terá de responder enquanto acusado de vários crimes.
O Negócios noticiava em julho que Sobrinho reclamava 20,9 milhões de euros, mas viu apenas reconhecidos créditos de 2,5 milhões pelo administrador judicial. São justificados com suprimentos - empréstimos de acionistas à empresa - e são créditos subordinados, ou seja, vão para o fim da fila dos pagamentos. À sua frente ficarão os trabalhadores, que viram reconhecidos apenas 335 mil euros. Segundo o Expresso, o administrador judicial Jorge Calvete não reconheceu boa parte dos créditos laborais reclamados. Empresas como a EDP (578 mil euros), a Fujifilm Portugal (134 mil euros) ou a também insolvente Inapa (140 mil euros) constam da lista dos maiores credores da Printer. A empresa de Sobrinho ficou também a dever mais de 367 mil euros de contribuições à Segurança Social e quase 49 mil euros em impostos ao Estado.
A soma das dívidas aos 10 principais credores ronda os 13 milhões de euros, enquanto os bens móveis inventariados estão avaliados em 1,8 milhões. Ainda está por apurar o valor pelo qual o imóvel industrial da gráfica será avaliado e existem ainda hipotecas por saldar.
O caminho da Printer para a insolvência já tinha sido apontado por Álvaro Sobrinho no início de junho, quando foi ao Parlamento dar explicações aos deputados, tendo na altura deixado quase todas as questões sem resposta e aproveitado a ocasião para atacar o Bloco de Esquerda.
“Supondo até que eu tivesse roubado a Angola, é um problema de Angola, não é problema seu”, respondeu o ex-banqueiro ao deputado José Soeiro. Semanas depois, o ex-presidente do BES Angola ficou a saber que irá a julgamento acusado de 18 crimes de abuso de confiança e cinco de branqueamento, com o Ministério Público a alegar que se terá apropriado indevidamente de centenas de milhões de euros entre 2007 e 2014, dispersando esse valor por inúmeras sociedades sociedades offshore com sede em diferentes paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, Panamá, Seychelles, Luxemburgo, Ilhas Caimão, entre outros.