O Fundo de Indemnização das vítimas de pesticidas, organismo estatal francês criado em 2020, reconheceu a “ligação de causalidade” entre a leucemia de uma criança de onze anos que acabou por falecer e a exposição da mãe a pesticidas no seu trabalho.
Laure Marivain foi florista durante muitos anos, manuseando grande quantidade de flores, e a sua filha foi exposta a pesticidas “durante o período pré-natal”. Quando nasceu, conta a mãe, não chorava, estava roxa e a placenta estava negra, tendo ela sido questionada sobre se se drogava. Depois de anos a sofrer de dores ósseas, foi-lhe diagnosticada a doença.
A indemnização decorrente do processo que se seguiu, considera o advogado da família, François Lafforgue, não teve devidamente em conta “os danos sofridos” pela criança.
Mais de uma centena de pesticidas foram detetados em flores vendidas na Europa, mas a UE não tem nenhuma regulamentação sobre a presença destes químicos em flores importadas.
À RFI, Claire Bourasseau, da associação Fito-vítimas, esclarece que 85% das flores vendidas em França “não são produzidas nas mesmas condições das que são feitas em França ou na Europa”. Apela por isso a uma regulamentação que “proteja de forma realmente eficaz os trabalhadores da flor em todo o mundo ”.
Os filhos destes trabalhadores também estão a sofrer com já cinco casos de crianças contaminadas reconhecidos em França até ao momento.
Este último caso foi revelado através de uma reportagem do Le Monde e da Radio France. Aos microfones daquela rádio, Bruno Schiffers, da Universidade de Liège, esclarece que o risco para os floristas “é mesmo mais importante do que aquele em que incorrem os agricultores porque são expostos a um cocktail de pesticidas muitos numerosos, com um número de substâncias muito elevado em cada bouquet, e até mesmo substâncias interditas na Europa”. Estes “não são informados” dos riscos que correm, “não usam equipamento de proteção, bebem, comem, durante o trabalho sem terem consciência de que manipulam produtos tóxicos em grande número e muito concentrados”.
Este foi um dos investigadores que participou num estudo dirigido por Khaoula Toumi que demonstrou a dimensão da exposição dos floristas belgas a pesticidas, identificando 70 resíduos (56 pesticidas e 14 metabolitos) na sua urina (comparada com um grupo de controlo). “Risco confirmado” conclui Schiffers.
A Générations Futures, associação ambientalista especializada na questão dos pesticidas, acrescenta que para além de os efeitos nos floristas continuarem a ser pouco abordados, “é complicado” tirar conclusões sobre “quais são os riscos associados a um bouquet de flores para os clientes”.