Farmacêuticas ajudaram à “catástrofe de direitos humanos”

16 de fevereiro 2022 - 9:19

Na atualização do seu relatório sobre desigualdade no acesso às vacinas, a Amnistia Internacional sublinha que as grandes farmacêuticas continuaram a pôr o lucro à frente das pessoas.

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Foto Jernej Furman/Flickr

"Enquanto os países de elevado rendimento açambarcaram vacinas, asfixiando insensivelmente o fornecimento às partes mais pobres do mundo, as empresas farmacêuticas desempenharam um papel fulcral nesta catástrofe em curso em matéria de direitos humanos - deixando os mais necessitados a enfrentá-la por sua conta. Estas empresas poderiam ter sido os heróis de 2021. Em vez disso, viraram as costas àqueles que mais precisavam de vacinas e apenas continuaram com os negócios como de costume, colocando os lucros à frente das pessoas. Se queremos que 2022 seja o último ano desta pandemia, temos de mudar de rumo agora para atingir a meta de 70% estabelecida pela OMS até Julho deste ano”, afirmou Rajat Khosla, responsável da Amnistia Internacional por este relatório apresentado na segunda-feira.

No ano passado, três das maiores produtoras de vacinas - Pfizer, Moderna e BioNTech - previam lucros de 54 mil milhões de dólares e ao mesmo tempo forneciam menos de 2% do total de vacinas aos países de baixo rendimento. E o mesmo aconteceu com as empresas chinesas Sinovac e Sinopharm, que surgem pela primeira vez neste relatório. Melhor desempenho neste capítulo tiveram a Johnson & Johnson e a AstraZeneca, com cerca de metade do seu stock a ter aqueles países como destino, embora muitas dessas doses tenham sido doadas pelos países ricos e as empresas mantenham a recusa em partilhar tecnologia e direitos de propriedade intelectual através das iniciativas coordenadas pela OMS.

"Apesar dos milhares de milhões em financiamento público, estas empresas continuam a colocar a sua própria ganância acima das suas responsabilidades em matéria de direitos humanos. É profundamente preocupante que os lucros estejam a ter prioridade sobre as pessoas - mesmo face a mais de 5,6 milhões de pessoas mortas da Covid-19 até à data. Quantas mais variantes temos de enfrentar até que os países de elevado rendimento e as empresas farmacêuticas se apercebam que as pessoas dos países de baixo rendimento devem ter acesso a vacinas - e não apenas as que vivem nos países ricos?" questionou Rajat Khosla.

Além de renovar o apelo às farmacêuticas para darem prioridade ao fornecimento aos países de baixos rendimentos e assim cumprir o objetivo da OMS de ter 70% da população vacinada até meados deste ano, a Amnistia Internacional também quer ver revista a tabela de preços das doses da vacina e partilhados os direitos de propriedade intelectual no âmbito dos programas existentes à escala global.