Orlando Gaspar Guerreiro de Almeida nasceu na Amadora em 1943. Formou-se em Engenharia Agrónoma pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. Trabalhou no Ministério da Agricultura como técnico superior na Estação de Cultura Mecânica, tendo sido adjunto do Presidente do Instituto de Reordenação Agrária.
Mas é pelo seu trabalho autárquico que é sobretudo conhecido. Foi presidente da Câmara Municipal da Amadora desde a fundação do município, em 1979, até 1997. Eleito pela APU e pela CDU.
Antes, tinha sido, entre 1974 e 1976 presidente da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia da Amadora da qual foi secretário a partir de 1977, na sequência das primeiras eleições autárquicas da democracia portuguesa. Foi ainda membro da Comissão Instaladora da Câmara.
“Não era o lucro, era o serviço público”
Numa entrevista à TV Amadora, há cerca de quatro anos atrás, refletia sobre as transformações ocorridas desde o tempo em que “trinta e tal comissões de moradores” se reuniram até de madrugada para dar o pontapé de saída no movimento que conseguiu fazer da Amadora concelho.
Contava como a situação das barracas era, quando o seu mandato começou, “indescritível” e a falta de escolas “impressionante”, os centros de saúde eram poucos e pequenos e à recém-criada Câmara Municipal “faltava pessoal e dinheiro para começar a trabalhar”.
Do seu mandato, orgulhava-se assim em primeiro lugar de coisas como ter deixado de haver cheias e passar a haver “água e saneamento para todas as pessoas em quantidade e qualidade e dos mais baratos do país”, numa zona em que “antes de ser cidade ao domingo não havia água suficiente para as pessoas tomarem banho”. A criação de escolas, que hoje são basicamente ainda as mesmas, de centros de saúde, a chegada do Hospital são outros triunfos locais que mencionava.
Sobre o fim da cintura industrial da Amadora dizia ter sido um “crime contra os interesses de Portugal”. Na Amadora deixou a “tristeza” de uma “zona abandonada” de que a cidade não recuperou.
Sobre a imagem de insegurança que se quer colar ao concelho afirmava: “há muito racismo na imagem de insegurança da Amadora”.
Nessa longa conversa, falou ainda do atraso com que o planeamento municipal foi feito. Considerava-o “fundamental” porque “sem isso estamos a construir casas para alguém ganhar dinheiro”.
E precisamente sobre esta ideia concluía: “a política é o bem-estar das pessoas”. Afirmando-se “ateu desde sempre”, disse que “as pessoas eram a minha religião”. O que poderia resolver os problemas destas e aquilo em que empenhou a sua vida “não era o lucro, era o serviço público”
“Uma memória presente”
Em 2000, Orlando Almeida saiu do PCP “porque queria que o partido fizesse uma análise mais crítica e profunda do que se passou no leste europeu” como explicou à Lusa cinco anos depois no âmbito da candidatura à Câmara Municipal da Amadora da jornalista Diana Andringa pelo Bloco de Esquerda.
Esta seria uma das várias candidaturas do partido da qual foi mandatário tendo a ele aderido. Nas mesmas declarações de 2005 dizia identificar-se agora “ideologicamente mais com o Bloco de Esquerda” por ser “um movimento mais plural” no qual “as pessoas são livres de terem as suas próprias sensibilidades”.
A estrutura onde militou, o Bloco de Esquerda da Amadora, dedicou-lhe uma nota lembrando “o seu trabalho em prol de uma Amadora para todos” que continuará a ser “uma memória presente”.
Como autarca, destaca-se-lhe o ter “sempre trabalhado em prol de um município onde cada um e cada uma se sinta parte, integrado, socialmente aceite e pessoalmente realizado”.
Para além disso, elogia-se o seu contributo: “sempre presente, amigo e camarada, partilhou ideias e propostas no coletivo de uma esquerda que luta diariamente contra a desigualdade, a discriminação, o racismo e todas as formas de violência, como caminho para a construção de um mundo em que impere a paz”.