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A este ritmo, o mirandês pode desaparecer em poucas décadas

Um estudo elaborado pela Universidade de Vigo aponta uma quebra de 50% no número de falantes de mirandês. Tendo por base 350 inquéritos feitos em 2020 à população do concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, o estudo conclui que existem hoje apenas cerca de 1.500 pessoas a usarem regularmente a língua mirandesa e mais outras duas mil que a conhecem. A situação "muito crítica" do mirandês atual deve-se em muito ao "abandono das instituições públicas", disse à agência Lusa o investigador Xosé-Henrique Costas, professor catedrático da Universidade de Vigo, que coordenou o estudo “Presente e Futuro da Língua Mirandesa”.
"A este ritmo, este idioma desaparece em menos de 20 anos”, aponta o investigador, antevendo um futuro em que o mirandês seja relegado a "um latim litúrgico para celebrações", sem ser "língua para viver" todos os dias,
As conclusões do estudo a que a Lusa teve acesso - e que não tem ainda data de apresentação oficial - apontam que a rotura com este idioma transmontano se dá "sobretudo nos nascidos entre 1960-1980", quando "se operou uma forte portugalização linguística", através "da imprensa, rádio, TV, escola e administração pública”.
“Isso contribuiu para o seu desprestígio [da língua Mirandesa], e para a identificação do mirandês com a ruralidade, a pobreza e a ignorância. Houve nesta época uma terrível rutura da transmissão entre gerações”, acrescentou Xosé-Henrique Costa.
Um dos maiores desafios que esta língua enfrenta é justamente o de se aproximar das novas gerações, pois o uso entre menores de 18 anos "é só de 2%" e a língua "só é utilizada em ambientes familiares e vizinhos nas freguesias do Norte do concelho de Miranda do Douro”. As medidas tomadas até agora, como o ensino opcional ou o uso bilingue da Câmara local e de outros serviços públicos e privados, “foram um placebo para manter viva esta secular forma de falar”.
“Não se consegue deter a hemorragia nem recuperar novos falantes", disse Costas num diagnóstico da situação atual, admitindo, porém, que é possível e urge "criar boas atitudes face à língua", com menos preconceitos negativos" e estabelecer bons conhecimentos "como compreender, ler e escrever” o mirandês.
Os inquéritos referem que a população mais nova pede "condições para se sociabilizar em língua mirandesa”. E o estudo aponta as insuficiências do estudo da língua mirandesa nas escolas do concelho em regime optativo, limitada a uma hora por semana, sem livros de texto, materiais pedagógicos, nem vagas próprias de professorado especializado.
“Salvar o mirandês é uma questão de vontade política e de economia linguística”, concluiu a investigação que contou com a colaboração da Associação de Língua e Cultura Mirandesa e do município de Miranda do Douro.
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