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“É inaceitável” que doentes oncológicos do Algarve tenham de ir a Sevilha

No mercado de Olhão, Catarina Martins criticou o facto de, na região, se ter deixado nas mãos dos privados tratamentos como a radioterapia. “O Algarve é o exemplo da política liberal de saúde e é o exemplo da destruição do SNS com prejuízos para a população”, afirmou ao apresentar um pacote para resolver os problemas locais.
Catarina Martins no mercado de Olhão. Foto de Luís Forra/Lusa.
Catarina Martins no mercado de Olhão. Foto de Luís Forra/Lusa.

Catarina Martins esteve na manhã deste sábado no mercado de Olhão com os olhos postos na política nacional e nas questões da saúde do Algarve. Sobre a situação política nacional, reiterou que é preciso outro orçamento e que “não é possível que os salários e as pensões continuem a perder poder de compra todos os dias enquanto alguns setores continuam a ter lucros milionários”. O Bloco insiste na preocupação a propósito do reconhecimento do ministro das Finanças de que o acordo de rendimento “afinal não vale” e as empresas “farão o que quiserem”, ao mesmo tempo que é uma certeza a enorme borla fiscal às grandes empresas “que vão poder nunca mais pagar os impostos que devem, incluindo os prejuízos que tiveram por má gestão, durante todos os anos que quiserem”.

A deslocação tinha contudo outro propósito: falar na situação que se vive na saúde no Algarve e apresentar o pacote do Bloco para enfrentar os problemas que se sentem. A coordenadora do partido destacou que foi decidido “no início desta semana” que os doentes oncológicos da região que precisam de radiocirurgia “vão ter de ir a Sevilha”. Para ela, é “absolutamente inaceitável obrigar doentes oncológicos a fazerem centenas de quilómetros e a irem para outro país para terem um tratamento que é essencial”.

De acordo com o Bloco “isso acontece por uma única razão: não houve investimento no Serviço Nacional de Saúde e deixou-se completamente no Algarve nas mãos dos privados tratamentos básicos para a população”. Catarina Martins lembrou que “em 2006 estava previsto um investimento em radioterapia no Algarve e na altura o governo de Durão Barroso decidiu não fazer o investimento e fazer um contrato com os privados para terem o monopólio da radioterapia no Algarve”. O resultado desta decisão é que “neste momento uma parte continuam nos privados e outra parte acabam em Sevilha”, o que “não é normal”.

Assim, “o Algarve é o exemplo da política liberal de saúde e é o exemplo da destruição do SNS com prejuízos para a população”. E não são só os doentes oncológicos que enfrentam problemas na região “também as urgências estão sempre a fechar, os profissionais que estão a faltar, tanto nos cuidados hospitalares como nos cuidados primários”, há “pessoas sem médico de família, tempos de espera para consultas acima do que está regulamentado, isto está a acontecer porque não há investimento”.

Por isso, o Bloco de Esquerda decidiu apresentar um pacote específico sobre a saúde no Algarve. A região é um dos locais “onde a privatização da saúde foi levada mais longe e onde por isso há menos acesso a cuidados de saúde”, são precisas condições de fixação como “garantir despesas de deslocação e de habitação para que os profissionais cá possam ficar” e “um processo para a certificação do centro hospital para garantir que a formação dos médicos possa ser toda feita no Serviço Nacional de Saúde e no Algarve”. Mais em geral, “é preciso no mínimo garantir que a saúde chega ao mesmo nível que os outros ministérios no acréscimo da massa salarial para ser possível depois ter estas medidas de incentivo que são necessárias”.

Um projeto para cuidar do SNS algarvio

A proposta bloquista parte da constatação de que “em toda a região do Algarve não existe resposta pública para radioterapia, radiocirurgia e PET TAC, o que faz com que o SNS fique dependente de empresas privadas e de concursos internacionais”. Pelo contrário, “há muito que o SNS, em particular, o CHUA deveria ter estas respostas integradas nos seus serviços. Mas a agenda privatizadora tem impedido esse investimento, prejudicando brutalmente toda a população do distrito”.

Nas palavras do diploma, “a violência de impor viagens de centenas de quilómetros a doentes oncológicos, para serem tratados fora de Portugal, é só um dos resultados grotescos da perda de capacidade na resposta pública e que se está a agravar”.

Diz-se que “vários hospitais manifestam sérias dificuldades para garantir as escalas para funcionamento de diversos serviços”, exemplificando-se com “o encerramento constante de maternidades, urgências obstétricas e urgências pediátricas, entre outros serviços, que têm funcionado de forma intermitente”. Há ainda listas e os tempos de espera “intoleravelmente altos em algumas especialidades”, uma falta de profissionais “gritante” que resulta, por exemplo, na falta de médicos de família.

O partido diagnostica um “ciclo de degradação” do SNS local com “a pressão privada no Algarve combinada com a não criação de condições de trabalho e de contratação para o SNS” que se agudiza no verão “mas não desaparece durante o resto do ano”.

Para resolver situação o Bloco quer aumentar as capacidades de formação na região (o que exige a conclusão do processo de certificação do Centro Hospitalar Universitário do Algarve), criar condições para contratar e fixar mais profissionais, melhorar as condições de carreira e de trabalho e investir no SNS, nomeadamente para garantir médico e equipa de família a todos os utentes e para garantir acesso a consultas e cirurgias a tempo e horas.

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