O Parlamento cabo-verdiano condenou esta quarta-feira a morte de Odair Moniz pela polícia portuguesa no bairro da Cova da Moura e os deputados dos vários partidos foram unânimes em exigir justiça neste caso. Pelo Movimento para a Democracia (MpD), o partido que apoia o Governo, falou a deputada Lúcia dos Passos para manifestar solidariedade com a família da vítima, apelar à serenidade da comunidade cabo-verdiana em Portugal. A deputada do MpD repudiou também as declarações do líder do Chega, que defendeu a condecoração do agente que matou Odair e defendeu que “o parlamento português deveria apresentar uma moção de censura contra a intervenção que ele fez”,
Outro deputado deste partido, Orlando Dias, pediu ao Governo que após ser conhecido o resultado do inquérito à morte de Odair assuma “um posicionamento claro, duro, porque já estamos numa fase de desenvolvimento da humanidade em que não se pode permitir o racismo”.
Do lado da oposição, João Baptista Pereira, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) associou-se à condenação e criticou as “condições sub-humanas” que muitos cabo-verdianos têm vivido no estrangeiro, particularmente em Portugal, vítimas muitas vezes de ataques de autoridades. “Este momento de centenário de Cabral simboliza que, de facto, os cabo-verdianos não podem continuar a ser tratados assim em nenhuma parte do mundo, e temos que denunciar isso e lutar para que a nossa terra seja aquela em que Amílcar Cabral sonhou para não passamos nunca mais por estas situações”, frisou o deputado, citado pela Inforpress.
Presidente da Câmara de Loures e líder da FAUL do PS quer despejar “sem dó nem piedade”
Em Portugal, o caso surgiu na reunião da Câmara Municipal de Loures, mas não na perspetiva de ouvir e avaliar as queixas dos moradores dos bairros onde se realizaram distúrbios noturnos nos dias que se seguiram à morte de Odair Moniz às mãos da PSP. Pelo contrário, o presidente da Câmara, Ricardo Leão, que este ano foi escolhido para dirigir a federação socialista da região de Lisboa, veio defender o despejo "sem dó nem piedade" de inquilinos de habitações municipais que tenham participado nos distúrbios.
Violência policial
Milhares desfilaram na Avenida para exigir justiça para Odair Moniz
"É óbvio que eu não quero que um criminoso que tenha participado nestes acontecimentos, se for ele o titular do contrato de arrendamento é para acabar e é para despejar, ponto final parágrafo", afirmou o autarca socialista, associando-se à recomendação proposta pelo Chega e também apoiada pelo PSD, para despejar das habitações municipais quem tenha cometido crimes.
A posição do autarca socialista foi contestada pelo ex-ministro da Educação do PS, João Costa. Num artigo publicado no Expresso, diz ser “lamentável” que PS e PSD “tenham acompanhado mais uma proposta populista e desumana do Chega, numa progressiva normalização de retrocessos que até há pouco tempo considerávamos inimagináveis na sociedade portuguesa”. João Costa compara a proposta do Chega com a que este partido apresentou nos Açores com o objetivo de “relegar para última prioridade no acesso à creche os filhos dos desempregados”.
“Como se afirmou na manifestação organizada pelo movimento Vida Justa, é com justiça que a paz se conquista. E, por isso, não precisamos de municípios que entendem substituir-se ao funcionamento da justiça encontrando novas penas”, afirma o antigo ministro, terminando com um conselho ao autarca de Loures para as próximas autárquicas: “Não é a tocar as concertinas do Chega que se vão afirmar as diferenças”.
Também o líder parlamentar do Bloco, que já foi candidato à Câmara de Loures, reagiu nas redes sociais às palavras de Ricardo Leão, partilhando as palavras de João Costa com a pergunta: “Porque é que o PS o colocou à frente da FAUL?”. Fabian Figueiredo diz que “quem acompanha a política do concelho sabe que [Ricardo Leão] podia ter sido pelo CH” e conclui que “a esquerda tem responsabilidade acrescida para apresentar uma candidatura alternativa” em Loures.