O ator francês Gérard Depardieu foi esta terça-feira condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa por agressão sexual contra duas mulheres que com ele trabalharam no filme “Les Volets Verts” de Jean Becker. Como medidas acessórias será incluído no registo de criminosos sexuais e será inelegível durante dois anos.
Foi nos bastidores deste filme gravado em 2021 que atacou a cenógrafa e a assistente de realização. O ator de 76 anos negou as acusações, dizendo que não tocou em qualquer uma delas e afirmando-se “de uma outra época” em que as mulheres “não se manifestavam” nem “apresentavam queixa”. As suas explicações em tribunal foram consideradas pelo juiz Thierry Donard como contraditórias e pouco convincentes. O seu advogado de defesa, Jérémie Assous, diz que vai apresentar recurso. No decurso do julgamento, disse às vítimas: “mentirosas, histéricas, vão chorar!”.
A sua conduta levou um dos advogados de defesa a afirmar que “durante quatro dias, testemunhámos não uma estratégia de defesa, mas um agressor a ser defendido por um agressor”.
Estas não são as únicas acusações de agressão sexual de que o ator foi alvo. Há mais 22 acusações neste sentido, com várias delas arquivadas por terem ultrapassado o prazo de prescrição. Depardieu está ainda a ser investigado por violação na sequência de uma queixa por parte da atriz Charlotte Arnould.
Depardieu a gravar nos Açores: que medidas de segurança?
Enquanto era julgado, revela o jornal online francês Mediapart, Depardieu preferiu vir à ilha de São Miguel, Açores, protagonizar o filme “Elle regardait sans plus rien voir” da sua amiga Fanny Ardant, financiado com dinheiros públicos da RTP e do Instituto do Cinema e do Audiovisual e produzido por Ana Pinhão Moura. Isto depois de no final de março o ator ter anunciado o fim da carreira.
Apesar de não ter sido aplicada qualquer medida de proibição de trabalhar, aquele meio de comunicação lembra que “a sua participação coloca a questão da obrigação de segurança da produção face aos seus empregados”. Questionando-se: “terá a produtora de Fanny Ardant implementado medidas a título preventivo? Terá nomeado um contacto para casos de assédio sexual?” Esta última medida é obrigatória em França para filmes com financiamento do Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada.
Estas questões foram colocadas à produtora, à realizadora e ao próprio Depardieu, que não responderam ao Mediapart. O jornal questionou também se “terá havido uma conversa prévia com o ator, que admitiu, durante os procedimentos do caso "Volets Verts" e no julgamento, que poderia fazer comentários sexuais que poderiam ser chocantes? A condenação do ator por agressão sexual na terça-feira coloca em causa a sua participação neste filme?”
Por sua vez, da parte do ICA houve resposta às questões enviadas pelo Mediapart. A entidade pública limitou-se a esclarecer que o filme foi selecionado para financiamento por um painel de especialistas externos “com base em critérios artísticos e de produção definidos nos regulamentos” e que os critérios de produção são “objetivos”, pelo que a entidade “não pode retirar o seu apoio a não ser em caso de não respeito contratual, o que parece não ser o caso na situação atualmente tornada pública”.
A questão da segurança é também levantada pelas duas mulheres que com ele trabalharam no filme “Volets Verts”. Para além disso, lembram que Depardieu as acusou de “destruir a sua carreira, a sua moral e a sua saúde, quando parece óbvio que estas filmagens no estrangeiro já tinham sido planeadas pela produção há muito tempo”.
Charlotte Arnould, que o acusa de violação noutro caso, afirma que “o perigo nas filmagens é real” e responsabiliza a produção pela segurança das pessoas que atualmente trabalham no filme.
O mesmo tipo de questões vem da ADA, Associação das Atrizes francesas, que vinca: “a produção e as instituições públicas portuguesas permitiram-se expor os trabalhadores e trabalhadoras a possíveis agressões sexuais”. A associação interroga-se se seria “absolutamente necessário” gravar este filme agora” e lamenta que haja “dinheiro dos contribuintes portugueses” a financiá-lo face às dificuldades económicas do país.