A tensão instalou-se durante a viagem de Pedro Sánchez a Israel. O atual presidente rotativo do Conselho da UE participou numa reunião com Benjamin Netanyahu, que contou ainda com a presença do primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, que o substituirá na presidência da UE a dia 1 de janeiro.
Durante o encontro, Sanchez leu ao chefe de Estado de Israel uma missiva em que assinalava que “o mundo inteiro está impressionado pelas imagens de Gaza”, e que “o número de palestinianos mortos é realmente insuportável”.
“Há que distinguir claramente entre alvos militares e a proteção dos civis”, referia ainda a nota.
Numa conferência de imprensa durante a sua visita, na sexta-feira, à passagem fronteiriça de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, os governantes de Espanha e Bélgica repudiaram as morte de milhares de civis.
Sanchez apelou a um “cessar-fogo humanitário duradouro” em Gaza e enfatizou que “a matança indiscriminada de civis inocentes, incluindo milhares de rapazes e raparigas, é completamente inaceitável”. “A violência só levará a mais violência”, afirmou. O chefe do executivo espanhol defendeu ainda que “chegou a hora de a comunidade internacional, sobretudo a UE, tomar uma decisão sobre o reconhecimento do Estado palestiniano. Valeria a pena, seria importante muitos membros da UE fazerem-no juntos”.
Tenemos que reemplazar la violencia por la esperanza.
No podemos permitirnos, sobre todo los israelíes y los palestinos, seguir viviendo bajo la amenaza constante del conflicto.
Ha llegado el momento de romper definitivamente este interminable ciclo de violencia que condena a… pic.twitter.com/sMWEwco68g
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) November 24, 2023
Segundo avança o semanário Expresso, o Governo de Madrid admite reconhecer unilateralmente o Estado da Palestina, caso a União Europeia não o faça em conjunto. Sanchez garantiu-o ao presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, na visita que fez a Ramallah, na Cisjordânia.
Madrid disponibilizou-se para acolher uma conferência internacional de paz no sentido da criação de dois Estados, iniciativa que Israel repudia. Ainda que tenha prometido fazê-lo, Telavive nem sequer participará no Fórum do Mediterrâneo, promovido pela UE e que decorrerá em Barcelona a partir de dia 27.
O mau-estar entre o Governo espanhol e Israel já era notório nas vésperas da visita. Os meios de comunicação israelitas, como o periódico Yediot Aharonot, deram destaque às posições de Ernest Urtasun, novo ministro da Cultura, e Sira Rego, com a pasta da Infância e Juventude, ambos da Somar, que se pronunciaram contra o genocídio na Palestina.
Condenar los atentados terroristas de Hamás y, al mismo tiempo, condenar la muerte de civiles palestinos no es una cuestión de partidos ni de ideologías. Es humanidad.
A quienes se oponen a todo y todo el tiempo, no les pido que estén con el Gobierno, les pido que estén con los… pic.twitter.com/i3drJi7qgl
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) November 26, 2023
Mas as tensões diplomáticas estendem-se também à Bélgica, na medida em que, durante a visita à passagem fronteiriça de Rafah, Alexander De Croo proferiu, igualmente, declarações que irritaram Israel, ao afirmar que “a destruição de Gaza é inaceitável”. “Não podemos aceitar que uma sociedade esteja a ser destruída da forma como está a ser destruída", disse.
A diplomacia israelita acusou os governantes belgas e espanhóis de apoiar o terrorismo e convocou os embaixadores dos dois países por “falsas alegações”. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, afirmou que “Israel está a agir de acordo com o direito internacional e a combater uma organização terrorista assassina pior do que o Estado Islâmico, que comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade”.
We condemn the false claims of the Prime Ministers of Spain and Belgium which support terrorism.
Israel is acting in accordance to international law and is fighting a murderous terrorist organization worse than ISIS, that is committing war crimes and crimes against humanity.…— אלי כהן | Eli Cohen (@elicoh1) November 24, 2023
Depois de Telavive ter confrontado a embaixadora espanhola numa “dura conversa de reprimenda”, Madrid convocou também a representante diplomática israelita.
O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, respondeu ainda às acusações israelitas na televisão pública: “São totalmente falsas e inaceitáveis. Repudiamo-las taxativamente. O Ministério está a avaliar a resposta oportuna que vamos dar e haverá contestação a essas acusações falsas, fora do lugar e inaceitáveis”.
João Cravinho visita Israel, Palestina, Jordânia e Egito
Na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, iniciou uma visita ao Médio Oriente, com deslocações a Israel, Palestina, Jordânia e Egito.
Antes de se encontrar com o seu homólogo, Cravinho afirmou, em declarações à RTP, que iria dizer a Eli Cohen “é que, em primeiro lugar, Portugal é solidário em relação aos ataques terroristas do Hamas. Portugal obviamente que defende o direito de Israel de proteger os seus cidadãos e o seu território".
"Ao mesmo tempo, nós estamos numa situação em que houve um nível absolutamente incomportável de vítimas civis em Gaza e vou-lhe também transmitir a mensagem que é absolutamente fundamental: o cessar-fogo temporário, humanitário, que se vive neste momento deve ter continuidade", acrescentou.
Reunião dos MNE @JoaoCravinho e @tfajon com o homólogo @elicoh1, em Sderot, no sul de Israel, após visita à comunidade de Kfar Aza, atingida pelas atrocidades perpetradas pelo Hamas a 7 de outubro. pic.twitter.com/yeYcJ0U9FU
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) November 24, 2023
Na rede social X, o ministério dos Negócios Estrangeiros assinala que Cravinho teve um “diálogo produtivo” com o presidente israelita Isaac Herzog sobre “o papel da comunidade internacional no momento atual”. Cravinho reiterou a sua solidariedade face aos ataques de 7 de outubro, e sublinhou que só uma solução política permitirá alcançar a paz.
Fruitful dialogue with PR Isaac Herzog @IsraelPresident on role of international community in the current context. MFAs @JoaoCravinho @tfajon reiterated their solidarity after the atrocities on October 7 and underscored the need for a political solution to have durable peace. https://t.co/4u4MZjOOYf
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) November 24, 2023
Já na reunião com o primeiro-ministro palestiniano Mohammad Shtayyeh, o governante português expressou a sua solidariedade face à tragédia humana em Gaza e apontou a convergência ”quanto à importância de aproveitar a atual dinâmica para concretizar a solução de dois Estados”.
Sobre os encontros com o Egito e Jordânia, Cravinho deu conta das prioridades elencadas: “alcançar um cessar-fogo definitivo, intensificar o fluxo de ajuda humanitária em Gaza e criar condições para a estabilidade perene na região”.
À chegada ao Cairo, o PR egípcio @AlsisiOfficial recebeu os MNE @JoaoCravinho e @tfajon. Visão comum quanto à necessidade de alcançar cessar-fogo definitivo, intensificar o fluxo de ajuda humanitária em Gaza e criar condições para a estabilidade perene na região. pic.twitter.com/sAPG13ryxk
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) November 25, 2023