Na intervenção de conclusão da moção A, Pedro Filipe Soares respondeu às críticas que ao longo do fim de semana foram apontadas aos debates, quer pelas restantes moções quer pelos comentadores e analistas. “Dizem que não temos falado da direita. Mas de que direita estamos a falar? A do líder do PSD que acha que o software estava em alemão, para responder em alemão sobre moções?”, ironizou.
“Não falamos desta direita porque ela não conta para o futuro do país”, prosseguiu Pedro Filipe Soares, lembrando que PSD e CDS farão a campanha eleitoral para as eleições europeias “de mão dada com quem nos queria aplicar sanções”, referindo-se ao candidato do PPE à liderança da Comissão Europeia. Trata-se de Manfred Weber, que foi protagonista “do maior ataque à democracia que existiu desde 2015 no nosso país” quando “pediu à UE para se vingar do povo português com sanções por ter votado à esquerda”.
“Dizem que o Bloco se institucionalizou ou que estamos no bolso do PS. Se estamos no bolso do PS, porque se irrita tanto António Costa com o Bloco? A realidade não é assim”, afirmou Pedro Filipe Soares, contestando também a crítica à institucionalização do Bloco, dando o exemplo de lutas contra os despejos, das trabalhadoras da Triumph, das populações ameaçadas por crimes ambientais como a poluição do Tejo ou o furo de petróleo em Aljezur.
“Em todas estas lutas, levantámo-nos nas ruas com esta gente. Este é o ADN do Bloco. Todas e todos somos ativistas nos movimentos sociais, não somos ativistas de sofás ou parlamentares sentados nas cadeiras do parlamento. Somos o partido que está a dar a política no nosso país”, defendeu, antes de apontar baterias à “elite que tenta minar a cabeça das pessoas a dizer que só eles sabem quem pode governar este país”. “Para eles, somos uma anomalia no sistema que tem de ser combatida. Se já os conseguimos pôr tão preocupados connosco nos últimos três anos, o que será o Bloco quando aumentar a sua força nas urnas?”, questionou.
Moção M: “Mais que uma geringonça de uma reposição dos direitos, sobra-nos a geringonça da estagnação salarial”
Francisco Pacheco, da moção M, trouxe uma “narrativa diferente” para dar espaço a uma “discussão séria sobre o futuro político do Bloco”, que passe por “reafirmar a luta de classes contra os responsáveis pela crise” e responder à “ameaça do novo populismo da velha extrema-direita que vira homens contra mulheres, heterossexuais conta homossexuais, trabalhadores contra trabalhadores”. Para isso, defendeu ser “urgente repensarmos a nossa organização, o nosso discurso, a nossa estratégia”.
Ao contrário da maior parte dos discursos enaltecendo a recuperação de rendimentos, Francisco Pacheco sublinhou que “a realidade portuguesa não é exceção à regra: a crise e o descontentamento são o dia a dia da maioria; são cada vez mais os que recebem o salário mínimo e sua entregues à precariedade”.
“As conquistas sectoriais não mascaram a realidade da crise permanente. Mais que uma geringonça de uma reposição dos direitos, sobra-nos a geringonça da estagnação salarial”, concluiu. Para o futuro, Francisco Pacheco diz que “não podemos dar ao luxo de repetir esta experiência governava”. E questionou: “O que significaria oito anos de orçamentos do PS aprovados? Quem olharia para o Bloco como um partido resistente e de rotura?”.
A alternativa defendida pela moção M passa por “afirmar um partido antissistema, anticapitalista, radical, um partido das bases que ocupa as ruas e os locais de trabalho”. Só assim, defendeu Francisco Pacheco, “o partido movimento pode disputar as maiorias, o poder e a hegemonia social e não ser a muleta do poder”.
Moção C: “Devemos exigir o que o PS recusou ao campo popular durante o atual governo”
As conclusões da moção C foram apresentadas por Paulo Teles, que elenco alguns dos pontos-chave das propostas defendidas pelos seus delegados à Convenção: “aumento dos salários e pensões de reforma, fazer caminho para a nacionalização de empresas estratégicas e manter aquelas que escaparam ao saque capitalista”, para além do aumento da participação dos trabalhadores na gestão das empresas, a aposta no SNS ou o combate às discriminações e aos despejos.
Sobre a trajetória do Bloco nos últimos dois anos, a moção C faz um balanço “globalmente positivo, mas era possível ir mais além”. Por exemplo, “falta maior esforço de organização local fora das grandes cidades e apenas demos os primeiros passos para deixar que o trabalho parlamentar seja o centro da ação política”, apontou Paulo Teles.
Sobre o cenário eleitoral de 2019, Paulo Teles defendeu que o Bloco “não deve fazer uma aliança pré-eleitoral com PS ou PCP”. “E devemos recusar integrar um governo com o PS, porque as diferenças políticas não o permitem”. No caso do PS obter maioria absoluta, “devemos ser oposição”, enquanto no caso do PS não conseguir essa maioria, “devemos exigir o que o PS recusou ao campo popular durante o atual governo”. O que o Bloco não pode, defendeu Paulo Teles, é “ficar com o ónus de sermos responsáveis pela políticas direitistas do PS”.