Comida ultra-processada estará a viciar um em cada sete adultos

12 de outubro 2023 - 22:31

Os investigadores de diferentes países analisaram 281 estudos e sugerem que alguns alimentos deveriam passar a ser rotulados como aditivos.

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Supermercado. Foto de Ajax Great/Flickr.
Supermercado. Foto de Ajax Great/Flickr.

O estudo Social, clinical, and policy implications of ultra-processed food addiction, Implicações sociais, clínicas e políticas da adição a comida ultra-processada, foi publicado esta segunda-feira na revista científica BMJ. Nele se estima que um em cada sete adultos (14%) e uma em cada oito crianças (12%) possam estar viciados em comida ultra-processada.

O grupo de investigadores sublinha que os alimentos ultra-processados ricos em carboidratos refinados e gorduras adicionadas, como gelados, bebidas com gás e refeições pré-cozinhadas são “altamente gratificantes” e “atraentes”, o que os leva a serem “consumidos compulsivamente e podem ser viciantes”. Aliás, o seu consumo está a aumentar em todo o mundo. No Reino Unido e nos EUA, por exemplo, constituem já mais de metade da dieta média.

Estudos anteriores tinham vindo a associar este tipo de alimentos a problemas de saúde como risco aumentado de cancro, aumento de peso e doenças cardíacas. Este, dedica-se a mostrar que o seu consumo pode corresponder “aos critérios para o diagnóstico de transtorno por uso de substâncias”, causando comportamentos como necessidade intensa de consumo, sintomas de abstinência, perda de controlo sobre a ingestão.

Os investigadores analisaram 281 estudos de 36 diferentes países para chegar às suas conclusões e defendem que “a compreensão destes alimentos como viciantes poderia levar a novas abordagens no domínio da justiça social, cuidados clínicos e abordagens políticas”. Uma das propostas com que avançam é a categorização oficial de alguns destes alimentos como “aditivos”.

Ashley Gearhardt, professora de Psicologia da Universidade do Michigan, esclarece que há “provas convergentes e consistentes” que apontam no sentido da “validade e relevância clínica da adição à comida”. “O reconhecimento de que certos tipos de alimentos processados têm as propriedades de substâncias aditivas pode ajudar a melhorar a saúde mundial”.

Alexandra DiFeliceantonio, professora no Fralin Biomedical Research Institute, acrescenta que há ainda muito que investigar sobre os efeitos deste tipo de alimentos: “tendo em conta como estas comidas são prevalecentes – constituem 58% das calorias consumidas do nos EUA – há muito que não sabemos”.

Os especialista escrevem que “os carboidratos ou gorduras refinados evocam níveis semelhantes de dopamina extracelular no corpo estriado do cérebro aos observados com substâncias viciantes, como a nicotina e o álcool.” Para além disso, os aditivos alimentares também podem estar a contribuir para a adição por se podem “tornar poderosos reforçadores dos efeitos das calorias no intestino”.

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