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Comboio Lisboa-Madrid em risco de cancelamento definitivo

A espanhola Renfe anunciou, a 26 de maio de 2020, o fim da ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid. A associação Zero critica o “desentendimento ferroviário dramático para o clima”. Bloco quer saber o que fará o Governo para manter a ligação.
Comboio Lusitânia Hotel - Foto wikipedia
Comboio Lusitânia Hotel - Foto wikipedia

A empresa espanhola de caminho de ferro Renfe anuncia que não irá retomar, provavelmente para sempre, o comboio-hotel Lisboa – Madrid, que é a única ligação ferroviária entre as capitais de Portugal e Espanha.

Em notícia da comunicação social espanhola1, a Renfe justifica o cancelamento com perdas de 25 milhões de euros.

Zero: “inaceitável falta de articulação sobre a política ferroviária entre os dois países”

Em comunicado, a Associação ambientalista Zero lembra que em dezembro passado Greta Thunberg viajou nesta ligação ferroviária para ir para a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, realizada em Madrid.

A Zero denuncia “a inaceitável falta de articulação sobre a política ferroviária entre os dois países, em particular entre as duas capitais”, sublinha que “o fim da ligação Madrid-Lisboa poderá construir o fim de uma alternativa menos poluidora para este trajeto, e maior dependência do transporte aéreo” e destaca que “a alternativa aérea representou 110 mil toneladas de emissões de CO2 em 2017”.

A associação ambientalista considera “surreal” o “trajeto decisório” de Portugal e Espanha, referindo que “Portugal abandonou a linha TGV para fazer uma linha de mercadorias, enquanto Espanha continuou com o projeto do lado espanhol; Madrid passou a ser o primeiro destino que mais passageiros mobiliza a partir do Aeroporto Humberto Delgado; agora parece que é Espanha a acabar com o que resta das ligações ferroviárias”.

A associação ambiental Zero considera que “é fundamental manter a ferrovia como uma alternativa para Madrid”, “tendo em conta a procura e a necessidade de reduzir os slots ocupados por um dos principais destinos a partir do aeroporto de Lisboa e de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa associadas ao transporte aéreo”.

Que medidas para manter a ligação ferroviária Lisboa-Madrid?

Ao ministro das Infraestruturas e da Habitação, o Bloco de Esquerda pergunta que medidas “vai o governo português diligenciar perante o governo do estado espanhol para garantir uma articulação da ferrovia internacional, a manutenção da viagem Lisboa-Madrid e o investimento público para a tornar mais rápida”. O grupo parlamentar bloquista pergunta também se o governo português foi informado da decisão da Renfe e se confirma que a ligação vai ser descontinuada.

No documento, o Bloco lembra que a ligação existe desde 1943 e que a viagem é lenta (Lisboa e Madrid distam cerca de 500 km, mas a ligação demora 10h).

O Bloco lembra também a viagem de Greta Thunberg e sublinha que “perante a emergência climática e os compromissos internacionais dos dois estados para com a resposta a essa crise, seria de esperar um maior investimento na ferrovia”.

“O fim desta ligação tem consequências gravosas para o futuro, nomeadamente ao intensificar a ponta aérea e ao colocar mais pressão sobre o aeroporto de Lisboa”, assinala ainda o grupo parlamentar bloquista.

Em post na sua página do facebook, o deputado Nelson Peralta frisa: “Não podemos falar de resposta à crise climática e depois afunilar a mobilidade para o aeroporto”


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