Michel Barnier, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Chirac e comissário europeu indicado pelos Republicanos, foi nomeado esta quinta-feira para o cargo de primeiro-ministro de França. A decisão de Macron foi tomada após consultar Marine Le Pen, a líder da extrema-direita francesa, e dela obter a garantia de não apresentação de uma moção de censura, ao contrário do que faria aos outros nomes sugeridos por Macron nas últimas semanas.
No passado dia 7 de julho, os franceses foram às urnas para derrotar a extrema-direita e penalizar o governo do partido de Macron, dando a vitória às listas da Nova Frente Popular com um programa de esquerda que pretendia reverter algumas das políticas liberais do atual executivo. O resultado ditou a ausência de maiorias absolutas, mas Emmanuel Macron decidiu contrariar a tradição republicana de nomear para a liderança do governo a força mais votada e permitir que negociasse no Parlamento a viabilização do novo executivo.
Nas últimas semanas, o Presidente desdobrou-se em consultas para encontrar uma figura à direita que tivesse condições para garantir uma maioria à partida, o que só seria possível com a anuência da União Nacional, assim transformada em árbitra da política francesa. O vice-presidente do partido, Sébastien Chenu, veio mesmo a público avisar que Marine Le Pen "não é a diretora de Recursos Humanos de Emmanuel Macron”. Mas a principal figura da extrema-direita, que já tinha dito a Macron que vetaria os nomes do republicano Xavier Bertrand e do ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, assegurou que não faria o mesmo ao ex-ministro republicano e antigo comissário europeu Michel Barnier.
“Escândalo”, “insulto” e “eleição roubada”: esquerda fala em crise de regime
No seu canal no Youtube, o fundador da França Insubmissa concluiu que “a eleição foi roubada” por não ser a Nova Frente Popular, “que ficou à frente nas eleições, a ter o primeiro-ministro e a responsabilidade de se apresentar aos deputados” com o seu programa de governo.
“Depois de a segunda volta das legislativas ter sido inteiramente concentrada a derrotar a União Nacional, é a personalidade mais próxima das suas posições que foi nomeada”, acrescentou Jean-Luc Mélenchon.
O líder socialista Olivier Faure, disse nas redes sociais que “a negação da democracia atingiu o seu apogeu: um primeiro-ministro do partido que ficou em quarto lugar e que nem sequer participou na frente republicana. Estamos a entrar numa crise de regime”.
“Quem estamos a querer enganar? É um verdadeiro escândalo”, diz por seu lado a líder ecologista Marine Tondelier, sublinhando que “o que acaba de acontecer em França, durante sessenta dias (...), se tivesse acontecido em qualquer outro lugar da Europa, tê-lo-íamos considerado deplorável do ponto de vista democrático”. Tondelier apela ao eleitorado de esquerda para não baixar os braços, porque “é exatamente isso que eles esperam”.
Já o líder comunista Fabien Roussel, diz que a nomeação de Barnier “é um insulto para os franceses que querem mudança” e o seu perfil político “é exatamente o oposto da mensagem enviada pelos franceses nas eleições legislativas”.
Manifestações este sábado contra o “golpe de Macron”
Convocadas pela França Insubmissa logo após Macron anunciar a sua rejeição de um governo de esquerda, as marchas de 7 de setembro ganharam o apoio dos outros partidos da NFP à exceção dos socialistas, além de associações juvenis e sindicatos.
Além da exigência do respeito pelo resultado eleitoral de julho e do fim da deriva autoritária do Presidente francês, estas marchas pretendem obrigar Macron a respeitar também a escolha dos franceses a favor do salário mínimo de 1.600 euros, o controlo de preços, a reforma aos 60 anos, a escola gratuita, a luta contra o racismo e o reconhecimento do Estado da Palestina.
Em Paris, a marcha partirá da Praça da Bastilha às 14h e estão marcadas marchas
em mais de uma centena de cidades e vilas francesas, além das representações diplomáticas de Londres, Dublin, Madrid, Barcelona, Berlim, Bogotá, Cali ou Montréal.