A queixa de duas alunas de Psicologia sobre uma agressão física por parte de um aluno praxista do 3.º ano de Ciências de Educação levou o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra a suspender “todas as atividades” relacionadas com a “praxe de gozo e de mobilização”. A decisão foi tomada na quinta-feira e, na próxima semana, as partes envolvidas serão ouvidas, sendo que a este Conselho só pode ser reconhecida uma legitimidade informal e no âmbito da tradição académica.
Sabe-se já que um aluno do 3.º ano de Ciências da Educação terá agredido com cabeçadas e bofetadas duas alunas de Psicologia durante uma praxe realizada às quatro da manhã em frente à faculdade. Há, no entanto, segundo o Público, duas versões do episódio: uma diz que as agredidas são caloiras que se recusaram a ser praxadas e a assinar o documento de rejeição da praxe; outra que diz tratar-se de duas alunas não caloiras que chamaram a atenção da violência da praxe que estava a ser feita à chuva e acabaram agredidas pelos comentários feitos. O caso terá acontecido no início do ano letivo, em outubro ou novembro de 2011.
As duas raparigas agredidas tiveram de receber tratamento hospitalar, sendo examinadas por médicos do Instituto de Medicina Legal. O caso deverá seguir para o Ministério Público e a direção da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação já conhece o caso.
No comunicado, partilhado na página do Conselho de Veteranos no Facebook e afixado na Associação Académica de Coimbra, o Conselho revela que teve conhecimento que alguns “doutores/as” da universidade “andam a ter atitudes que, no mínimo, se podem classificar como desviantes dos princípios e orientações da praxe académica”. Nesse sentido, vem a decisão de suspender as atividades da chamada “praxe de gozo e de mobilização”.
Já o presidente da Associação Académica de Coimbra, Ricardo Morgado, lamenta o sucedido e considera fundamental que se averigue o que realmente se passou.
Docentes de Letras fazem petição para interditar praxe académica indigna em Coimbra
Entretanto, um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Coimbra colocou, neste domingo, a circular entre os colegas, um abaixo-assinado a solicitar aos órgãos da universidade a interdição de certas formas de praxe académica que consideram “indignas”. Pedem uma intervenção dos órgãos da faculdade no “sentido de esclarecimento dos/as estudantes relativamente aos seus direitos”, alertando no início do ano os novos alunos para a possibilidade de recusarem a praxe.
Catarina Martins, uma das promotoras do abaixo-assinado, disse à Lusa que tais práticas, dentro e fora das instalações da faculdade, põem em causa a imagem da instituição, e são atentatórias “ao que deve ser a universidade e a sua função”, de educação para a cidadania, promoção dos direitos individuais, do saber e do sentido crítico.
Afirma ainda que os docentes promotores do documento entendem que “não podem continuar a ficar passivos face à passividade dos órgãos responsáveis”. Invasões de aulas por grupos de alunos de outras faculdades, cânticos obscenos envolvendo o nome de docentes e “coação violenta a alunos”, gravadas em vídeo de forma ilegal, são alguns dos comportamentos que identifica e censura.
“Há práticas que violam a liberdade e dignidade de cada um, com um caráter profundamente sexualizado, com linguagem fortemente obscena, e são violentas”, sublinha a docente, citada pela Lusa.
Bloco exige uma tomada de posição do Ministério da Educação
"Queremos saber quais os trâmites que estão a ser seguidos no que nos parece ser uma agressão violenta que ocorreu em Coimbra, mas queremos também saber da parte do Ministério da Educação qual é que entende ser o seu papel e o que tenciona fazer relativamente às praxes violentas", afirmou à Lusa a deputada bloquista Ana Drago.
Ana Drago frisou que "todos os anos aparecem situações destas, que estão documentadas nos jornais" e em "documentários feitos sobre o assunto" e que "mostram que nas instituições de ensino superior existe este conjunto de práticas de humilhação e de violência sobre estudantes que chegam, muitas vezes sozinhos e sem conhecer ninguém".
"Nada do que é descrito ano após ano é um mecanismo ou um ritual de boas-vindas aos estudantes, são formas de humilhação e de poder que não podem ser toleradas", advogou.
Ana Drago lembrou que no final do ano passado, os partidos da maioria chumbaram um projeto de resolução dos bloquistas que recomendava ao Governo a criação de "uma rede de apoio aos estudantes que chegam" e a promoção de "uma cultura que de modo algum possa ser tolerante com este tipo de práticas".