Centenas de bancários manifestaram-se contra os despedimentos

13 de julho 2021 - 23:30
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Manifestação nacional de bancários em protesto contra os despedimentos, junto ao parlamento, em Lisboa, convocada pelos sete sindicatos do setor, 13 de julho de 2021 – Foto de António Cotrim/Lusa
Manifestação nacional de bancários em protesto contra os despedimentos, junto ao parlamento, em Lisboa, convocada pelos sete sindicatos do setor, 13 de julho de 2021 – Foto de António Cotrim/Lusa

Numa ação de luta inédita, os sete sindicatos do setor, afetos a tendências sindicais e políticas diferentes, convocaram a manifestação que se realizou esta terça-feira em frente à Assembleia da República, em Lisboa.

Questionados pela Lusa sobre se os bancários estão dispostos a ir mais longe nas ações de luta e se poderão mesmo avançar para uma greve geral no setor, os dirigentes sindicais afirmaram que há cada vez mais essa vontade.

Como pode uma empresa com bons resultados despedir centenas de pessoas?

“Isto é o princípio de uma jornada de luta, a greve não é uma forma de luta que esteja excluída”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários do Norte (SBN, ligado à UGT), Mário Mourão.

O presidente do Mais Sindicato (ligado à UGT), António Fonseca, considerou que as condições para uma greve geral no setor começam a surgir e afirmou que "isto é o início de uma luta, a greve é uma ferramenta e um direito dos trabalhadores e por isso vamos possivelmente ter de a utilizar”.

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Quase 300 trabalhadores na Altice já começaram a receber as suas cartas, o Santander quer suprimir cerca de 700 postos de trabalho, cerca de 1000 trabalhadores estão ameaçados no BCP, para dar apenas alguns exemplos. Se não for travada, esta vaga ameaça tornar-se um “novo normal”.

José Soeiro
Sobre o/a autor(a)

José Soeiro

Dirigente do Bloco de Esquerda, sociólogo.

A coordenadora do Sintaf (afeto à CGTP), Rute Santos, afirmou à Lusa que as condições para a greve estão a surgir.

Uma posição partilhada pelo Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB, sindicato independente). “Há condições cada vez melhores para ter sucesso nesse desiderato, se for essa a vontade bancários, já estivemos muito mais longe, basta ouvir as pessoas, estão fartas de serem tratadas como objetos descartáveis”, afirmou Paulo Marcos, presidente do SNQTB.

O presidente do SBN, Mário Mourão, questiona como pode uma empresa com bons resultados despedir centenas de pessoas, aumentando a despesa pública e Paulo Marcos, do SNQTB, considerou ainda que é “ensurdecedor o silêncio de partidos com responsabilidades governativas”, afirmando que “por muito menos o primeiro-ministro de Espanha disse que eram inadmissíveis” as reestruturações de bancos em Espanha.

Nos cartazes empunhados pelos manifestantes podia ler-se : "Massacre tem de parar", "Chega de despedimentos" ou "Em defesa dos bancários".

Os sindicatos exigem que os bancos, em particular BCP e Santander Totta, que têm atualmente processos mais 'agressivos' de saída dos trabalhadores, em que admitem recorrer a despedimentos coletivos - façam verdadeiros processos negociais, ofereçam condições dignas e parem com as ameaças e intimidações.

Os sindicatos defendem também que as saídas se deem sobretudo por reformas antecipadas e acusam os bancos de forçarem rescisões por mútuo acordo (mais baratas), quando há trabalhadores que pela idade poderiam sair em reformas antecipadas.

Na manifestação estiveram deputadas e deputados de PSD, PCP e Bloco de Esquerda, tendo sido notada a falta de parlamentares do PS.,

"O Parlamento não pode ficar alheio a esta violação das regras laborais”

Para a deputada bloquista Mariana Mortágua, é preciso dizer “aos administradores da banca que a lei é para cumprir” e que não podem fazer rescisões sob a ameaça de despedimento. “Os bancos dão lucro e durante muito tempo foram suportados pelos contribuintes. O Parlamento não pode ficar alheio a esta violação das regras laborais”, sublinhou.

O setor bancário perdeu cerca de 15 mil funcionários entre 2009 e 2020 e este será novamente um ano ‘negro’. Grandes bancos portugueses preveem reduzir milhares de trabalhadores, sendo BCP e Santander Totta os que têm processos mais ‘agressivos’ em curso.

O Santander Totta tem um plano de reestruturação que prevê a saída de mais 685 pessoas através de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo (sem acesso a subsídio de desemprego). O BCP quer que saiam 1.000 empregados através de reformas antecipadas ou rescisões por mútuo acordo (sem acesso a subsídio de desemprego). Caso não saiam por acordo o número que consideram adequado, ambos os bancos admitiram avançar para despedimentos coletivos.

Também o banco Montepio quer reduzir 600 a 900 postos de trabalho através de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho (neste banco acedem a subsídio de desemprego, pois obteve do Governo o estatuto de empresa em reestruturação).

Em outros bancos, como Novo Banco, CGD e BPI, continuam também os processos de saída de trabalhadores, mas para já de forma mais 'suave'.

A saída em massa de trabalhadores bancários põe ainda em risco a sustentabilidade dos subsistemas de saúde SAMS, geridos pelos sindicatos dos bancários e financiados pelas contribuições dos trabalhadores e pelos bancos.

Os sete sindicatos que representam os bancários são Mais Sindicato, Sindicato de Bancários do Norte, Sindicato dos Bancários do Centro (estes três sindicatos são ligados à UGT), Sintaf (ligado à CGTP), Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários, Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo Caixa Geral de Depósitos e Sindicato Independente da Banca (estes três sindicatos independentes).