Bolseiros exigem fim da precariedade na Ciência

13 de abril 2023 - 19:12

Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) promoveu esta quinta-feira uma manifestação em frente ao Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto. A principal reivindicação passa pela substituição de todas as bolsas por contratos de trabalho.

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Foto publicada na página de Facebook do Bloco de Esquerda - Distrito do Porto.

Ana Isabel Silva, a frequentar um doutoramento no i3s, foi uma das cerca de cem pessoas que se juntaram em frente a este instituto para exigir o fim da precariedade na Ciência.

Conforme explicou ao Esquerda.net, a principal reivindicação é a revogação do estatuto de bolseiro de investigação, e a substituição de todas as bolsas por contratos de trabalho.

Ana Isabel Silva referiu que, “atualmente, os bolseiros, pelo seu vínculo laboral, não têm acesso a direitos básicos de um trabalhador, recebendo apenas 12 salários, sem subsídio de alimentação, com completa desproteção em caso de baixa e com um grande comprometimento da sua carreira contributiva e futura pensão”.

“No entanto, são estes bolseiros que garantem a alta produtividade dos centros de investigação no nosso país. Em muitos outros países da União Europeia os doutorandos têm um contrato e não uma bolsa como acontece em Portugal”, continuou.

De acordo com Ana Isabel Silva, “a falta de contratos estáveis na ciência contribui para a diminuição de democracia interna, levando a casos de abuso laboral”.

Durante a manifestação foram levantadas outras preocupações, que passam pelos baixos rendimentos auferidos pelos bolseiros e o facto de milhares de investigadores doutorados verem terminados os seus contratos num futuro próximo sem perspetivas futuras de integração na carreira científica.

Em declarações ao Expresso, Inês Maia, da direção da ABIC, assinalou que “o que se tem tornado evidente é que há um agravamento da precariedade e que as medidas que vão sendo tomadas vão nesse sentido, como é o caso da criação das bolsas de doutoramento em contexto não académico".

A dirigente associativa avançou ainda que, enquanto as bolsas não forem substituídas por contratos de trabalho, a ABIC reivindica um novo aumento do valor que é pago.

“A atualização de 55 euros nas bolsas não foi suficiente tendo em conta a inflação e o facto de nos últimos 20 anos ter havido uma perda de compra superior a 20% uma vez que as bolsas estiveram congeladas entre 2002 e 2018”, detalhou.

A ABIC propõe um aumento de 7,8%, de acordo com a inflação.

“E é uma atualização excecional mínima que também não será suficiente para compensar a perda de poder de compra acumulada”, apontou Inês Maia.

A ABIC quer ver ainda garantida a abertura de concursos para integração na carreira dos investigadores contratados no âmbito de mecanismos criados nos últimos anos, “que não têm qualquer garantia de efetiva integração na carreira”, bem como dos bolseiros de pós-doutoramento que ainda não foram contemplados por nenhuma das medidas.

Bloco solidário com luta dos bolseiros

O Bloco de Esquerda esteve presente no protesto e reforçou a sua solidariedade com a luta dos bolseiros e investigadores.

O partido entregou na Assembleia da República uma pergunta sobre o protesto dos investigadores científicos contra a precariedade na Ciência.