Está aqui
Bloco quer travar privatização dos cuidados de saúde primários
A coordenadora do Bloco de Esquerda repudiou a possibilidade avançada pelo ministro da Saúde no sentido de criar Unidades de Saúde Familiar tipo C, o que se traduz na "privatização" dos cuidados de saúde primários.
Em declarações à agência Lusa, Catarina explicou que a proposta do Bloco em sede de Orçamento do Estado visa "tirar qualquer entrave à constituição de USF tipo B", o que implica "acabar com as quotas, com os vetos de gaveta que existem para a criação destas USF", que "provaram ser muito boas para o país".
"E retirar da lei, pura e simplesmente, a possibilidade de fazer USF tipo C. Elas nunca foram regulamentadas, o país não precisa delas, já aprendemos com o exemplo do Reino Unido que é um péssimo caminho", clarificou.
Catarina Martins afirmou-se surpreendida com o intuito de Manuel Pizarro, "porque o que tinha estado sempre em debate era a necessidade de generalização das USF tipo B, ou seja, as que sendo públicas dão autonomia e dão remuneração com incentivos".
"É muito estranho que o PS agora diga de repente que se calhar a solução pode ser empresas privadas", criticou, apontando que esta é "uma mudança na política no PS".
Para a dirigente bloquista, esta medida "não tem nenhum sentido a não ser que o PS tenha mesmo esta vontade de privatização do SNS".
Este modelo de USF "é uma forma dissimulada de destruir o SNS para entregar tudo ao negócio da doença", criticou.
Catarina afirmou ter a certeza de que “há muitos socialistas, e nomeadamente muitos socialistas que trabalham no SNS, que constroem o SNS, que pensam sobre o SNS, que seguramente se sentem muitos desconfortáveis com ter um ministro a sequer ponderar entregar a empresas privadas cuidados primários de saúde"
Lembrando que a então ministra da Saúde Marta Temido disse no Parlamento que não avançaria com este modelo, a coordenadora do Bloco enfatizou que esta "é uma proposta que foi feita pelo conselho estratégico da CIP, os patrões dos patrões, foi posta no programa da IL, tanto a IL como o PSD a têm proposto e agora o PS diz que pondera fazer".
A líder bloquista chamou a atenção para os riscos desta medida, que se pode tornar irreversível.
"Como aconteceu com os meios complementares de diagnóstico, o mais provável é que os grandes grupos económicos que controlam boa parte da saúde acabem donos de todas as empresas que existam de cuidados primários e depois ficam com um grande poder de chantagem sobre o Estado, alertou, acrescentando que "os privados não têm critérios só clínicos".
Segundo Catarina, "onde há USF do tipo B não há falta de médicos de família".
"Andámos há muitos anos a dizer ao Governo que para não perdermos médicos de família e atrairmos os que são formados é necessário generalizar este modelo, as USF tipo B, por todo o país, mas o Governo tem sempre posto quotas, vetos de gaveta", lamentou.
Em declarações à TSF, Catarina advertiu que “esta ideia de que podem ser umas coisas pequeninas, como dizia Manuel Pizarro, não é assim”: “Nos laboratórios de análises e na radiologia também começou por ser pequenino e, hoje, os gigantes dos hospitais têm o monopólio", realçou.
A dirigente bloquista deu ainda o exemplo do Reino Unido, onde "se começou a destruição do SNS do Reino Unido" com "a forma insidiosa" que o Governo português quer adotar. No Reino Unido, o serviço público "era parecido com o nosso, muito forte e reconhecido. Hoje, no Reino Unido, têm imensos problemas. Está provado que aumentou a taxa de mortalidade por causas tratáveis à medida que ia sendo privatizado", vincou.
Catarina acusou o executivo de estar “a colocar em cima da mesa apenas as propostas da direita" que levam "à destruição do SNS".
Adicionar novo comentário