Depois de nos últimos dias terem vindo a público notícias sobre os tempos de espera nas urgências superiores a 30 horas no Hospital Doutor Fernando Fonseca, mais conhecido por Amadora‑Sintra, a juntar à demissão do diretor da urgência, de vários cirurgiões e às denúncias de perda de capacidade cirúrgica e formativa nesta área, a administração do hospital foi chamada ao Ministério da Saúde.
À saída da reunião, os membros do Conselho de Administração afirmaram que iriam continuar os seus mandatos. Mas passadas 24 horas, no momento em que a ministra da Saúde respondia no Parlamento à interpelação agendada pelo Bloco de Esquerda sobre a degradação e partidarização do SNS, descartando responsabilidades no caos vivido naquele hospital e atribuindo culpas à administração, o Conselho de Administração emitiu um comunicado a anunciar a sua demissão.
No seu comunicado, os administradores do hospital dizem que o órgão “sempre seguiu o caminho da legalidade, ética e justiça, nunca considerando qualquer outro” e que a demissão “permitirá à tutela implementar as medidas e políticas que considerem necessárias”.
Para o Bloco de Esquerda, “parece evidente o choque entre Conselho de Administração e Ministério e entre estratégias a implementar, situação que urge esclarecer e fiscalizar”, pelo que decidiu chamar a administração demissionária do Amadora-Sintra a prestar esclarecimentos na comissão parlamentar de Saúde.
No requerimento entregue para solicitar essa audição urgente, a deputada Marisa Matias deixa várias perguntas que pretende ver respondidas pelos administradores: “Estamos, no caso do Amadora-Sintra, perante mais uma situação em que a tutela nada fez e depois delegou as suas culpas e responsabilidades? Que alertas foram feitos pela administração do Amadora-Sintra e que medidas foram tomadas pelo Governo? E que pretende o CA demissionário dizer quando escreve que sempre se pautou pela legalidade e que se demite para não ser obstáculo à tutela?”.
Marisa Matias considera que já “são por demais os casos anteriores que acabaram com a demissão de administrações, mas onde a responsabilidade por encerramentos e não prestação de serviços coube totalmente à ministra”, dando o exemplo da urgência pediátrica de Viseu ou o colapso do INEM.