Bloco dá boas-vindas a novos militantes e prepara luta por Europa radicalmente democrática

13 de abril 2024 - 22:10

Depois da Mesa Nacional que aprovou a lista de candidatos às europeias, o Bloco organizou um comício de receção aos novos militantes. Mariana Mortágua desmontou o programa de governo do PSD que “está cheio de novidades conservadas em formol”. Catarina Martins quer “uma Europa radicalmente democrática, que dê poder à esperança”.

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Comício do Bloco. Fotos de Rafael Medeiros.

No comício deste sábado de receção aos novos militantes do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua começou a sua intervenção pelos chavões em que se baseia o programa de governo, “modernidade, progresso, futuro”, e que estão assentes em “premissas básicas que por sua vez se vão traduzir as principais propostas do programa do governo”.

A primeira delas é que “se baixarmos os impostos para os lucros, há mais investimento e a economia cresce”, o que se traduz na medida de reduzir o IRC sobre os lucros de 21 para 15%. Sobre esta aproveitou para destacar que durante toda a campanha e já depois, o primeiro-ministro e o PSD contrapuseram a esta medida “uma suposta redução do IRS em 1.500 milhões de euros”, mas a “promessa era falsa”, tendo assim Luís Montenegro tomado “Portugal por parvo”.

A segunda é que “se liberalizarmos os setores estratégicos, os preços descem e o serviço melhora”, o que se traduz em “abrir ao privado ferrovia, as respostas sociais, escancarar a saúde ao negócio”.

A terceira é que “se flexibilizarmos a lei laboral, os salários, a produtividade aumenta” e as medidas são “retirar da lei geral as garantias sobre o trabalho experimental, sobre os horários de trabalho, sobre a extinção do vínculo de trabalho”.

A porta-voz bloquista traduz tudo isto: “numa frase, a ideia é enriquecer os ricos primeiro, encher-lhes de tal forma o copo, até que dele verta alguma coisa para o resto da sociedade”. Ideia onde “não há ponta de modernidade” pelo que “o programa de governo do PSD está cheio de novidades conservadas em formol”. Até porque “esse futuro é o nosso presente”: a “economia frágil assente em baixos salários, longas horas de trabalho, novas formas de precariedade, exploração do mundo da obra em imigrante”, “o mundo social, baseado em patrões de consumo, em modelos de perfeição pessoal e profissional que ninguém consegue atingir”, a “descrença que os serviços públicos possam chegar a toda a gente no tempo e no modo em que são precisos”.

Dele faz ainda parte a guerra, “que sempre existiu e que agora parece muito mais próxima e muito mais ameaçadora” e as alterações climáticas. Um futuro ligado a um “sistemático desmantelamento das estruturas coletivas que davam no sentido à nossa existência e foram substituídas por lógicas individualizantes, atomizadas da sociedade”.

A coordenadora do Bloco dedicou a parte seguinte da sua intervenção às questões da tecnologia e do cuidado. Sobre a primeira, concluiu que “a inovação tecnológica, quando refém das lógicas de mercado de curto prazo, sem orientação estratégica, tende a ser consumida pela criação de uma parafernália de bens ou de facilitadores de consumo que são apenas marginalmente diferentes uns dos outros”. E quando é apropriada por grandes monopólios, "está limitada no seu potencial produtivo e transformador da sociedade”. Para depois apresentar um conjunto de áreas onde deveria fazer a diferença para “servir um propósito coletivo”.

Sobre a segunda, considerou “o cuidado como princípio organizador da nossa sociedade” e que o espaço público, a energia, a habitação, a saúde, o bem-estar das crianças e dos mais velhos "não são produtos para o mercado”, mas “uma responsabilidade de toda uma sociedade”. Algo essencial para “criar um novo sentimento de pertença, um novo sentimento de confiança num coletivo que é capaz de se transformar e garantir o bem-estar de todos”.

Uma última palavra foi sobre as próximas eleições europeias nas quais o Bloco apresenta “um manifesto que afirma uma ideia básica: a Europa faz parte do futuro que queremos”. O Bloco afirma-se como “a esquerda internacionalista” que “não vê o mundo como uma ameaça, não desiste de uma Europa de paz e cooperação radicalmente democrática e ao serviço dos povos”.

Uma Europa radicalmente democrática, que dê poder à esperança

Catarina Martins, cabeça de lista do Bloco de Esquerda às próximas eleições para o Parlamento Europeu, partiu da metáfora dos campos de morangos de Gaza, destruídos por Israel, para falar na situação de genocídio “protegido pela inação também europeia” que aí se vive. Para ela, “a credibilidade da Europa como defensora dos direitos humanos morre a cada dia desta inação”.

Um segundo tema que trouxe foi o aquecimento global, reforçando a ideia de que “não valem palavras bonitas para pintar de verde o continuado financiamento dos gigantes da indústria fóssil”. É, pois, preciso uma “mudança extraordinária” que é uma “transição justa” que exige “planificação ecológica” e “apoio popular” e “deve ser paga por quem lucra com o modelo económico que provoca a insegurança a nível planetário”. Avançou assim com propostas como “taxar lucros excessivos, combater offshores, impor novas regras de produção e distribuição, investimento público nas cidades e em todo o território, na habitação e na eficiência energética, nos transportes na energia, para apoiar quem assume os custos da transição e na criação de empregos para o clima”.

No dia em que a direção do Bloco aprovou a lista às eleições europeias, a cabeça de lista garante que esta é feita “desta exigência, de quem sabe que a esquerda não tem tempo para desânimos nem para lamber feridas, de quem tem pressa de uma igualdade que seja para toda a gente e de uma liberdade assim inteira”.

Contra quem diz repete as “velhas ladainhas de mal menor, que mais vale aceitar que tudo fique assim ou virá o papão da extrema-direita”, a dirigente bloquista afirma que “o mal menor é sempre o mal maior”. E isto “é a extrema-direita já a determinar o pacto das migrações e o fim ao direito de asilo”, “a casa a preços que ninguém pode pagar”, “a crise a crescer em todos os serviços de saúde da Europa”, um “colete de forças que tira esperança e desperta o bafio dos velhos ódios que nos destroem”.

A proposta do Bloco para estas eleições é portanto o “avesso” disto, ou seja a “coragem” “de escrever novas regras económicas que saibam que uma casa é uma casa e que não há progresso sem saúde, sem educação, sem salário, sem cultura, sem tempo para viver”, “de ser feminista e anti racista e ter ser orgulho e arco-íris”.

Vê-se o projeto europeu como “um projeto de cooperação que não esteja refém dos grandes interesses económicos, que coloque no centro a democracia e a soberania popular” de “uma Europa aberta ao mundo, orgulhosa da sua diversidade e dos movimentos de emancipação que fazem avançar os direitos humanos” contra “a tirania dos mercados”, que “inclui e não exclui”, “da criação livre contra a opressão e da democracia contra o preconceito”.

O Bloco define este tempo como “o tempo de novas regras e novos tratados que afastem a austeridade” como uma política que “combata desigualdades e traga a promessa concreta de melhor emprego, melhor salário, direito à habitação, à saúde e à educação”. É também o tempo “de todos os perigos” e, por isso, “não há tempo a perder: queremos uma Europa da Paz, solidária e defensora dos direitos humanos, uma Europa radicalmente democrática, que dê poder à esperança”, concluiu.

"Quero sentir a fraternidade que deve ser a Europa"

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A eurodeputada Anabela Rodrigues falou no legado do 25 de Abril, da inspiração de Amilcar Cabral porque a revolução dos cravos está “intrinsecamente ligada” com África, da “descolonização psicológica” que é necessária “em muitas mentes” porque “há uma nostalgia dos velhos tempos, da tortura, da injustiça, da oposição, da injustiça”.

Lembrou também a realidade dos imigrantes no país que enfrentam “como está a acontecer ainda ontem ali nos Anjos” o “olhar repressivo” e “securitário” e os problemas em conseguirem vistos para poderem viver em Portugal: “enganam-se se pensam que é fácil legalizar-se em Portugal”, vincou, enquanto desmontava os mitos sobre a imigração massiva e recordava que os migrantes “contribuíram com 1,7 milhões para a Segurança Social ao mesmo tempo que o “reagrupamento familiar está fechado em Portugal há mais de dois anos”.

E terminou afirmando: “quero sentir a liberdade que tanto se grita na Europa, a igualdade que tanto se grita na Europa, quero sentir a fraternidade que deve ser a Europa.”

Lutar com um sorriso no rosto

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Karim Quintino pegou no mote do jantar, a integração dos novos militantes que chegaram ao partido para falar de militância. Uma vida que “não é fácil”, que “acarreta prejuízos pessoais” mas é feita porque se “acredita piamente na possibilidade de um mundo diferente”, se “quer uma sociedade que se deixe de mover por darwinismos sociais, pelo salve-se quem poder, e sim por um mundo verdadeiramente justo e humanista”.

Esta luta exige tempo, determinação, entusiasmo e vontade de contribuir. E instou a que seja feita “sempre sem hesitações e sempre com um sorriso no rosto”.