BES Angola não sabe a quem emprestou 5,7 mil milhões de dólares

07 de junho 2014 - 15:39

Segundo o Expresso, o buraco das contas do Banco Espírito Santo Angola deve-se a créditos, que representam 80% do total da carteira, sobre os quais não há informação de quem são os beneficiários nem para que fins serviram. Decisão de conceder os empréstimos foi do empresário Álvaro Sobrinho, presidente do banco até 2012 e acionista de diversos meios de comunicação em Portugal.

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Os interesses de Álvaro Sobrinho. Infograma de "Os Donos Angolanos de Portugal"
Os interesses de Álvaro Sobrinho. Infograma de "Os Donos Angolanos de Portugal"

O semanário Expresso noticia este sábado que o BES Angola não sabe a quem emprestou 5,7 mil milhões de dólares, sendo que a atual administração suspeita que 745 milhões foram parar às mãos de Álvaro Sobrinho, presidente daquele banco até 2012.

O empresário angolano Álvaro Madaleno Sobrinho é dono da Newshold, grupo angolano que, além do semanário Sol, controla 15% da Cofina (Correio da Manhã, Jornal de Negócios, revista Sábado), bem como o jornal i. A Newshold ficou conhecida por ter entrado na corrida pela privatização da RTP, entretanto gorada.

Segundo o Expresso, a situação do BESA foi explicada pelo novo CEO do banco, Rui Guerra, aos acionistas em duas reuniões que decorreram em Angola em finais de 2013. O panorama apresentado por Guerra foi no mínimo inusitado: para um valor de 5,7 mil milhões de dólares de crédito concedido pelo BESA, que representa nada menos que 80% do total da carteira, não há informação sobre quem são os beneficiários económicos nem para que fins foi utilizado o dinheiro. Há muito poucas garantias reais e as que existem não estão avaliadas.

O próprio José Eduardo dos Santos mandou dar garantias

Recorde-se que o presidente do BES, Ricardo Salgado, reconheceu recentemente que houve problemas no BESA e que o banco recorreu diretamente ao governo angolano para obter uma garantia que cobrisse o crédito duvidoso. “O presidente José Eduardo dos Santos teve uma grande atenção, com certeza, na decisão [de ser dada uma garantia do Estado angolano que cobre de 70% do crédito do BESA]. Eu estou reconhecido porque também foi consideração em relação ao Grupo Espírito Santo. (…) A garantia é inequívoca”, disse Ricardo Salgado em entrevista ao Jornal de Negócios.

A notícia do buraco nas contas do BESA já fora dada pelo site informativo Maka Angola e reproduzida pelo Esquerda.net. O jornalista Rafael Marques calculava que os créditos malparados eram na ordem dos 6.500 milhões de dólares, incluindo 1.500 milhões em juros – um valor não muito diferente do que foi adiantado agora pelo Expresso.

Empréstimos generosamente distribuídos a figuras proeminentes do MPLA

Segundo o artigo do Maka Angola, a origem do buraco foram os empréstimos generosamente distribuídos por Álvaro Sobrinho, “a conhecidas figuras do regime angolano, incluindo vários membros do Bureau Político do MPLA”.

Segundo o Expresso, na reunião de acionistas Sobrinho afirmou que a ausência de controlo na aplicação dos fundos emprestados é uma falha antiga na gestão do BESA, muito comum em África, e que sempre reportou toda a informação ao conselho de administração do BESA sendo que a maioria dos administradores foram nomeados pelo BES. Alegou também que o BESA sempre prestou informação detalhada ao BES, nomeadamente sobre os grandes riscos, bem como ao Banco Nacional de Angola e que os auditores, KPMG, nunca colocaram quaisquer questões ou reservas relevantes às contas.

Estavam presentes na reunião Ricardo Salgado (BES), o general Leopoldino Fragoso do Nascimento (Geni), o general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” (Portmill) e o próprio Álvaro Sobrinho, acionista individual.

Estado angolano poderá passar a ser principal acionista

Uma fonte ouvida pelo Expresso afirma que há uma alta probabilidade de que o aval do governo angolano terá de ser executado, de modo a proteger o Banco Espírito Santo de impactos diretos nos resultados e no seu capital. Nesse caso, o aval poderá ser convertida em capital social do BESA, o que tornaria o Estado angolano no principal acionista do banco, cujo capital social não chega aos 700 milhões de dólares.