Está aqui

Berlim: falso anúncio imobiliário de protesto recebe centenas de respostas reais

Uma artista alemã criou um anúncio imobiliário falso de forma a satirizar a especulação que tomou conta de Berlim. Contudo, foi inundada por telefonemas de interessados em investir.
Cartaz criado por Dorothea Nold para satirizar a especulação imobiliária.
Cartaz criado por Dorothea Nold para satirizar a especulação imobiliária. Fonte: twitter

Há mês e meio, três outdoors fizeram-se notar em Berlim. Nos cartazes destacavam-se os desenhos de três prédios, construções de luxo que estariam disponíveis em 2021, sem reserva, em espaços livres da cidade. E disponibilizava-se um número de telefone para os interessados ligarem.

Os supostos projetos imobiliários eram mirabolantes, uma intervenção artística de protesto da autoria de Dorothea Nold. Por isso, a artista não estava à espera do que se seguiu. Nold, que tinha colocado o seu número nos cartazes, começou a receber inúmeras chamadas de investidores que não perceberam que se tratava de uma obra satírica.

Quem levasse os anúncios a sério teria de ignorar os sinais de aviso que estavam plantados nos anúncios: edifícios incongruentes, que destoariam aberrantemente da envolvência, cavalos que passeiam no meio da cidade, num projeto liderado supostamente pelo “Desperate Development” e pela agência imobiliária “Sharck Immo”, os tubarões da imobiliária que se assumiriam como tal no nome da sua empresa.

Elementos suficientes, achava a autora, para não ser levada a sério. Só que “algumas pessoas apenas viam o número de telefone e bloqueavam o resto da imagem”, conta Nold que acrescenta que os interessados que ligavam nem se interessavam pelos detalhes, dizendo que comprariam seja como estivessem.

Nold passou assim a receber cerca de seis chamadas por dia, de alemães mas também de turistas à procura de um bom investimento numa cidade em que as rendas, que costumavam ser comparativamente baixas, dispararam. Só em 2017, houve uma subida de 20,5% do preço do imobiliário na cidade.

E era sobre esta realidade que ela queria à partida refletir com a sua intervenção: “coloquei os outdoors em locais nos quais odiaria ver urbanizações”. Ou seja, “nos espaços abertos que a cidade precisa de preservar.” Isto porque “queria gerar aquele momento de choque em que vês [os cartazes] e dizes: oh, não, não aqui também.”

Termos relacionados Cultura
(...)