Está aqui

Barragem da Iberdrola em Espanha deixa agricultores portugueses sem água

Fracos caudais do Tejo, controlados na barragem de Alcântara, traduzem-se em quebras de produção elevadas e em consequências profundas na fauna e flora envolvente. Governo espanhol anunciou abertura de investigação às barragens da Iberdrola.
Rio Tejo em Santarém - Foto tepui.geoversum /flickr arquivo)

O presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação explicou à agência Lusa que, “nos últimos 15 dias, a água tem sido uma desgraça. A barragem de Alcântara [Espanha] está com 44% da sua capacidade e não tem libertado nada. No troço entre Abrantes e Constância, os agricultores têm tido graves problemas para regar o milho e têm tido quebras de produção muito elevadas”.

Luís Damas referiu que em causa está “uma área de cerca de 1.200 hectares afetada pela falta de água” com perdas da ordem dos 30 a 40%, sobretudo na produção de milho. “Um hectare que tenha capacidade para produzir 15 ou 16 toneladas está a produzir apenas 10”, detalhou o dirigente associativo, apontando que o Tejo se transformou numa “autêntica ribeira”.

O presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação lembrou que o problema já foi sinalizado há bastante tempo, e que se prende com a irregularidade do volume de água que é libertado a partir da barragem de Alcântara, explorada pela Iberdrola.

De acordo com Luís Damas, a empresa elétrica espanhola “gere os caudais economicamente e não olha para a parte ecológica e tudo o que envolve o rio, nomeadamente a necessidade de ter um caudal com estabilidade, não só por causa da rega, mas também por toda a fauna e flora envolvente”.

A situação já foi reportada à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à ministra da Agricultura, que assegurou que o Governo português está a acompanhar o caso e a tentar negociar.

“Mas, até agora, nada de concreto”, apontou.

Na semana passada, a proTEJO defendeu em comunicado “caudais ecológicos no rio Tejo” e exigiu “que o Ministério do Ambiente não aceite os falsos caudais diários que apenas satisfazem os interesses das hidroelétricas espanholas”.

Entretanto, fonte do Ministério do Ambiente e Ação Climática informou a Lusa de que “Espanha, após conversações com a operadora dos empreendimentos hidroelétricos do Tejo Internacional naquele país, manifestou o seu empenho em distribuir o caudal mínimo semanal da Convenção [de Albufeira] de forma o mais uniforme possível ao longo dos dias da semana”.

Espanha anuncia abertura de investigação às barragens da Iberdrola

A terceira vice-presidente do governo e titular do Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico, Teresa Ribera, considera "escandalosa" a situação nas barragens de Ricobayo (Zamora) e Valdecañas (Cáceres), ambas geridos pela Iberdrola.

Na semana passada, a ministra afirmou já ter enviado uma carta à Iberdrola a pedir justificações pela forma como a elétrica está a gerir as reservas de água. Ribera, citada pelo elplural, assinalou, durante o programa Al rojo vivo, de La Sexta, que esta situação está relacionada com as cláusulas da concessão, que provavelmente não previam uma intervenção para garantir volumes ecológicos e mínimos nos reservatórios.

"Por isso, a empresa justifica que está a cumprir com todos os requisitos, o que me parece escandaloso”, frisou. A governante deixou ainda um aviso: "Se se constatar que houve uma má prática" na gestão da barragem vai ser ativado "o mecanismo sancionador correspondente e (aplicadas) as sanções que tenham de ser aplicadas".

A reação da ministra surgiu após o porta-voz da Transição Ecológica de Unidas Podemos no Congresso, e coordenador da Aliança Verde, Juantxo López de Uralde, ter dirigido um conjunto de perguntas ao Ministério para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico sobre como, no caso de Zamora, os municípios afetados são confrontados com uma diminuição abrupta do caudal. Em quatro meses, a barragem passou de 95% da sua capacidade para 12%.

Juantxo López de Uralde assinalou que a gestão levada a cabo pela Iberdrola está relacionada com a de subida do preço do gás e a maior procura de produção hidroelétrica. A elétrica “tem aumentado sua produção de energia a baixo custo nas últimas semanas”, frisou.

Entretanto, o secretário de Estado do Ambiente, Hugo Morán, citado pela agência Lusa, anunciou esta semana que o Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico abriu investigações às empresas que gerem barragens nas bacias hidrográficas do Douro, Tejo e Miño-Sil por ocorrerem níveis de exploração "acima do que seria recomendável".

Morán explicou que não está em causa apurar só se ultrapassaram os limites da concessão, há que apurar "se se superou o que o senso comum recomenda na hora de enfrentar a gestão de um recuso público tão sensível com a água".

O secretário de Estado do Ambiente reconheceu que as condições de algumas concessões hidroelétricas foram estipuladas quando o impacto das alterações climáticas não era tão evidente como é atualmente, pelo que os novos planos das bacias hidrográficas vão ser adaptados.

Já a Iberdrola garante que está a fazer a exploração das barragens "sempre em contacto com as autoridades competentes" e "dentro dos padrões estabelecidos e com normalidade".

Termos relacionados Ambiente
(...)