Extrema-direita

Bando neonazi agride cidadão indiano em Aveiras

09 de outubro 2025 - 11:15

Engenheiro mecânico foi atacado por um grupo de homens com t-shirts que os identificavam com o grupo neonazi 1143. “Agrediram-me porque sou imigrante”, afirmou. apelando a que casos como este sejam denunciados “para que não façam o mesmo a outras pessoas”.

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1143. Fotografia de Fernando Veludo/Lusa
1143. Fotografia de Fernando Veludo/Lusa

Um cidadão indiano da comunidade sikh foi atacado este domingo ao fim da tarde por um bando neonazi.

A história foi revelada pelo Público esta quinta-feira. Rachhpal Singh, de 29 anos, parou na estação de serviço de Aveiras quando regressava de Lisboa para Alpiarça com o reboque com o qual trabalha para uma oficina. Aí, viu-se rodeado de um grupo de homens com t-shirts de um grupo neonazi chamado “1143” que o mandavam embora do país. Ele respondeu-lhes: “voltar porquê? Estou a trabalhar, estou legal.” Um deles agarrou na t-shirt e mandou “beija aqui, beija aqui”.

Singh nem tinha conhecimento da existência deste grupo fundado por Mário Machado, que cumpre atualmente uma pena de dois anos e dez meses por discriminação e incitamento ao ódio e à violência.

Depois, começaram as agressões: “um deles deu-me uma cabeçada e agarrou a minha camisola; eu agarrei a camisola dele. Ele continuou a dizer coisas”. A vítima diz que seriam “umas dez” pessoas que o agrediram até que caiu. Ao levantar-se, deu conta que lhe tinha sido roubado o telemóvel e foi perguntar por ele: “nessa altura, uma pessoa veio por trás e bateu-me nas costas. Caí no chão e várias pessoas começaram a bater-me enquanto eu estava no chão”. “Depois fugiram,” relata.

Testemunhas do sucedido chamaram a GNR, que confirma o ataque e respondeu ao jornalista que se trata de “uma alegada situação de agressões e roubo, praticada por um grupo de cidadãos tendo, conforme declarações da vítima, um dos elementos do grupo envergado uma camisola com o número 1143”.

Este engenheiro mecânico de formação mostrou ao jornal fotos das agressões em que se veem claramente as lesões. Diz ter dores por todo o corpo e não tem dúvidas: “agrediram-me porque sou imigrante” e “foi racismo”. Apela a que nestes casos se façam denúncias “para que não façam o mesmo a outras pessoas”.

A presença deste grupo foi igualmente confirmada por testemunhas. Uma delas afirma que “estava na estação e vejo agitação e um grupo com mais de 20 homens, com aspeto neonazi – musculados, tatuados, cabeças rapadas – a espancar uma pessoa no chão. Eu na altura nem conseguia ver quem era a pessoa a ser agredida porque eles estavam completamente em cima, a esmurrar e a pontapear. Ao mesmo tempo, vi um homem sair de um carro que estava estacionado com um bastão enorme e juntar-se à pancadaria.”

E acrescenta “cheguei ao pé deles e comecei a gritar: ‘Parem, que vou chamar a polícia!' Nesse momento chegou um carro com um homem e uma mulher, que começaram a gritar ‘racistas’. Ouvi ‘bora, bora’, e eram imensos – o grupo encheu dois autocarros. Entraram nesses autocarros, de cor azul acinzentada, sem qualquer marca” e “seguiriam no sentido Norte”. O cidadão indiano “estava com a cara toda esmurrada, a sangrar, com a camisola e as calças rasgadas”.

Nas suas redes sociais do grupo estava anunciado que membros de todo o país partiriam de autocarros para um evento em Lisboa a comemorar o segundo aniversário da sua formação. A agressão terá acontecido no seu regresso.

A este bando neonazi têm sido atribuídos vários ataques. Nos últimos meses, agrediram várias pessoas na manifestação do 25 de Abril, tendo sido detidos vários de entre eles, suspeita-se que estão por detrás do ataque a um grupo de voluntários que distribuíam comida a pessoas em situação de sem-abrigo no Porto em junho e nesse mês um membro do Núcleo Antifascista de Guimarães queixou-se de agressões por parte de um membro deste grupo.