Num debate em que os temas nacionais sublinharam as convergências quanto às propostas abordadas, acabou por ser no plano internacional que ficaram mais claras as diferenças entre o Bloco de Esquerda e o Livre.
Elas passaram pelas já conhecidas diferenças de atitude face à evolução da União Europeia, com Rui Tavares a reafirmar a sua “convicção europeísta” e num projeto de “substituir uma globalização injusta por uma globalização justa” e Mariana Mortágua a recuperar o “europeísmo de esquerda” como um dos elementos da fundação do Bloco, que implica a crítica das “políticas de austeridade permanente” e da “cedência ao lóbi financeiro para mudar políticas ambientais”.
Mas no atual momento em que a União Europeia aprova um programa de investimento em armas de 800 mil milhões de euros, Mariana Mortágua deixou claro o que hoje separa os dois partidos: “Devemos ou não gastar mais em armamento? O Livre entende que sim e o Bloco entende que não”.
Para justificar a posição do seu partido, Rui Tavares invocou a ameaça não só da Rússia mas também dos EUA, com a vontade de anexar a Gronelândia. “Putin não é uma gripezinha, temos de nos preparar quer a ameaça venha ou não venha”, defendeu o líder do Livre. Uma preparação que passa pela Europa “substituir armas que compra aos EUA” e passar à prática o artigo do Tratado da UE equivalente ao artigo 5º da NATO, que obriga os estados-membro a defenderem um país sob ataque.
Mariana Mortágua argumentou que o que está em causa no plano de rearmamento europeu “é alimentar a indústria da defesa” e que a “esquerda não pode aceitar que o projeto económico da Europa seja o armamento”, em detrimento da habitação, do clima e dos serviços públicos.
“A ideia de que Putin vem aí num tanque e que vai entrar pela fronteira espanhola é uma ideia errada”, respondeu Mariana à alusão de Rui Tavares sobre a distância de Bucha a Kiev ser equivalente à de Alverca a Oeiras, criticando-o também por defender a permanência na NATO com os EUA quando os acusa de ameaçar a Gronelândia.
O fim do debate sobre política externa marcou também o fim das divergências, com a moderadora a trazer ao debate temas como a limitação dos leques salariais nas empresas e o apoio do Estado às empresas em risco de encerramento que passem a ser geridas pelos trabalhadores, com ambos a defenderem as propostas e a criticarem que sempre que se introduzem medidas para trazer mais justiça tenham de responder sobre o risco de uma “fuga dos ricos”.
A última parte do debate tratou de cenários pós-eleitorais, com Rui Tavares a acreditar na possibilidade de uma plataforma de entendimento para um governo progressista que proteja os serviços públicos e reconheça o Estado da Palestina. Mariana Mortágua criticou a estratégia de campanha de Pedro Nuno Santos, que “quer mais um voto do que o PSD para depois governar com o apoio do PSD” e defendeu que “não podemos ceder nos princípios mais fundamentais da esquerda”, que se traduzem nesta campanha em propostas como os tetos às rendas, a reforma antecipada para quem trabalha por turnos, a rejeição da corrida às armas e o imposto sobre os patrimónios milionários.