O ministério da Justiça russo anunciou esta quinta-feira que Nadejda Tolokonnikova e Veronika Nikoulchina, duas integrantes do coletivo artístico contestatário Pussy Riot tinham sido acrescentadas à lista de “agentes do estrangeiro” elaborada pelas autoridades do país.
Esta lista oficial, criada em 2012 e que serve como forma de pressão a vozes consideradas críticas, passará agora a contar com 111 nomes, sendo que, no mesmo dia, o escritor satírico
Viktor Chenderovitch, a jornalista Taïssiya Bekboulatova, o colecionador de arte Marat Gelman, entre outros, conheceram a mesma sorte.
De acordo com o governo russo, “estes indivíduos forneceram sistematicamente documentos a um círculo indeterminado de pessoas, recebendo financiamentos do estrangeiro”. Passam a partir deste momento a ter de referir este estatuto em qualquer publicação que façam.
Nadejda Tolokonnikova ficou conhecida internacionalmente em 2012 quando foi uma das três mulheres do grupo Pussy Riot a ser presa por ter encenado uma “missa punk” contra Putin numa catedral de Moscovo. O grupo emitiu a seguinte “reação oficial” no Facebook:
“1. lol;
2. não iremos rotular as nossas publicações, o governo pode rotular os seus rabos se quiser;
3. não iremos recorrer em tribunal;
4. a Rússia será livre.”
Memorial, a associação encerrada para apagar a memória e calar um foco de dissidência
Esta declaração surge poucos dias depois da polémica causada pela decisão do Supremo Tribunal da Rússia de dissolver a Memorial Internacional, uma organização de defesa dos direitos humanos que também se dedicava à divulgação da memória histórica dos campos de trabalho estalinistas.
O Ministério Público tinha requerido a sentença, alegando que a Organização Não Governamental cria "uma falsa imagem da União Soviética como Estado terrorista". Também esta organização tinha sido considerada em 2016 como uma “agente do estrangeiro”. E, de acordo com a acusação, não tinha cumprido as obrigações do estatuto.
A sentença foi contestada e pelo menos seis pessoas acabaram presas nesse dia. A Memorial defendeu-se numa declaração pública em que afirmava não ser “uma organização, nem sequer um movimento social” mas “uma necessidade dos cidadãos da Rússia saberem a verdade sobre o seu passado trágico, sobre o destino de vários milhões de pessoas. E ninguém será capaz de ‘anular’ esta necessidade”.
A documentação da repressão estalinista não é, porém, a sua única atividade. É conhecida ainda por ter investigado abusos dos militares russos na Chechénia e o grupo mercenário Wagner que atua ao serviço de Putin em vários pontos do globo. A sua diretora no Cáucaso, Natalya Estemirova, foi assassinada em 2009, um crime nunca resolvido. E esta segunda-feira o historiador Yuri Dmitriev, especialista no período estalinista e membro da organização, tinha visto a sua pena de prisão aumentar de 13 para 15 anos. Foi acusado de abuso sexual mas a Memorial considera que a condenação é uma represália pelas suas suas investigações históricas.