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Angela Merkel negociou em segredo o “fracking” para a Europa

“Dizer as coisas quando outros calam... é um ato revolucionário”
George Orwell
No mês de junho, e enquanto toda Europa desfrutava do mundial de futebol, Angela Merkel deu passos de gigante para introduzir o fracking na Europa. Cada avanço da seleção alemã na competição desportiva, tinha a sua contrapartida no desenvolvimento do gás de xisto elaborado por Merkel. E o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos permitirá estabelecer o marco jurídico que deverá pavimentar o caminho das empresas de fracking (todas dos EUA) para o coração da Europa.
As negociações entre Angela Merkel e a administração de Barack Obama, enquanto os golos de Müller e Goëtze enchiam as redes em Brasil, foram completamente ignoradas pela imprensa, e nem sequer as informações divulgadas por alguns meios de comunicação conseguiram chamar a atenção. Isto dá conta da alienação total que vive o mundo de hoje. O documento secreto foi dado a conhecer pelo Washington Post e NeoPresse, em pleno fulgor do Mundial de Futebol. A verdade é que quando publicamos Estados Unidos aproveita derrube do MH17 para arrebatar à Rússia o mercado energético de Europa, este tema estava bastante avançado, como mostra este artigo do EU Observer: A UE quer acesso garantido ao gás e petróleo dos Estados Unidos, como parte da revolução do xisto que começa a viver a Europa.
As negociações para que os Estados Unidos forneçam energia à União Europeia fazem parte essencial do acordo de livre comércio que ambas as partes estão a negociar com todo o secretismo. Muito antes de ter sido derrubado o MH17, Angela Merkel dava por eliminado o fornecimento de gás pela Rússia. Isto agora é uma realidade. Arseni Yatseniuk, o primeiro-ministro da Ucrânia, assinalou ontem que vai impor uma proibição total ao trânsito de mercadorias russas para a Europa através da Ucrânia, incluindo "especialmente" o fornecimento de gás à UE. Quer dizer que a Europa ficou desde ontem sem o gás russo e 300 milhões de europeus ainda não o souberam. O mais surpreendente, como indica NeoPresse, é que "todos os estudos que detalhavam os males do fracking, têm vindo a desaparecer das fontes oficiais e hoje o fracking é tão inofensivo como a energia nuclear" (pensemos em Chernobyl e Fukushima).
Que é o fracking?
O fracking é uma moderna tecnologia usada para extrair o gás natural que se encontra preso nas rochas subterrâneas desde há 400 milhões de anos. Este gás constitui um dos capítulos finais da formação da Terra e, à diferença das jazidas tradicionais, o gás de xisto encontra-se disperso ao longo das folhas ou escamas destas rochas. A tecnologia que se usa para extrair este gás é chamada fraturação hidráulica de alta pressão e consiste em perfurar a rocha a 3.000 ou 5.000 metros de profundidade para permitir o fluxo do gás até onde possa ser recolhido.
Perfurar a 5 quilómetros de profundidade requer uma grande capacidade de bombeamento com água e areia para fraturar a rocha. Os grãos de areia permitem manter abertas as fraturas para facilitar a passagem do gás. O volume de água requerido neste processo, dependendo do tamanho do poço, flutua entre os 10 e os 30 milhões de litros. A pressão requerida pode atingir as 10 mil libras por polegada quadrada. Em todo este processo são usados químicos altamente tóxicos e cancerígenos que se misturam com a água das camadas subterrâneas e contaminam o elemento vital. Por isso o fracking implica sérios riscos para a saúde e para o meio-ambiente que são altamente nocivos e que potenciam a deterioração das alterações climáticas. Para o a obsessão pelo curto prazo do mundo moderno são uma tábua de salvação.
Como o governo de Barack Obama tem encontrado no fracking uma espécie de recuperação económica, está a explorar a toda a velocidade este novo recurso para conseguir a independência energética dos Estados Unidos, como era nos primeiros 70 anos do século XX. Mas a exploração do fracking a alto nível, onde são libertadas grandes quantidades de metano, pode acelerar o processo de gases estufa do CO2 de forma bem mais demolidora. O gás de xisto existe em muitos lugares, e acelerar a sua extração pode ter sérios e irreversíveis efeitos nas alterações climáticas. É isto que não é levado em conta pela visão de curto prazo de Angela Merkel.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
Comentários
Concessões de exploração de Petróleo em Portugal
Ainda estou para entender a razão pela qual a Esquerda Net continua mais centrada em divulgar o que se passa fora do país do que a informar os cidadãos da realidade, há muito, por cá a acontecer, que até já motivou uma intervenção de "Os Verdes" na AR. (ver a partir de 2:50 - https://www.youtube.com/watch?v=ldsy4imUV70).
Há cerca de 3 anos que a ASMAA procura denunciar e informar as populações sobre os contratos de concessão de exploração de petróleo e de gás de xisto, que o anterior governo, através da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis (ENMC) têm vindo a firmar no maior secretismo.
- http://www.asmaa-algarve.org/index.php/en/campaigns/campanha-contra-o-pe...
- http://www.asmaa-algarve.org/index.php/en/campaigns/campanha-contra-o-pe...
Por outro lado, há ano e meio que a Plataforma não ao Tratado Transatlântico vem alertando para as consequências, para a devastação humana, social e ambiental que os tratados ditos de livre comércio e investimento vão provocar na Europa - para já o CETA e o TTIP - com maior incidência nos países do sul, estando os combustíveis fósseis na linha da frente.
- https://www.nao-ao-ttip.pt/o-ttip-o-petroleo-e-o-fracking/
- https://vimeo.com/148279787
"Que tipo de modelo energético promovem esses tratados?
Será que vai ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa ou será que vão aumentar?
Em suma, é compatível o TTIP com a luta contra as alterações climáticas?
Durante as duas primeiras semanas deste mês de dezembro, em Paris, que esteve a ter lugar a 21ª Conferência do Clima (COP 21), em que os líderes mundiais procuraram chegar a um acordo para tentar reduzir as emissões de gases de efeito estufa que estão a causar as alterações climáticas.
Nesta segunda parte do documentário "TTIP: energia e alterações climáticas", Carlos Crespo e Hector Rojo, analisam os efeitos da TTIP e de outros acordos comerciais em matéria de luta contra as alterações climáticas e da soberania energética. O documentário, de 15 minutos, apresenta o TTIP como um garante da continuidade do modelo energético fóssil, em última análise, responsáveis pela alteração climática.”
Saudações cidadãs
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