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EUA: uso do “fracking” na Califórnia é contestado

As estimativas de extração de petróleo das formações de xisto de Monterey foram reduzidas em 96%. "O risco ambiental do fracking perdura, mas sem nenhuma possibilidade de ganho económico pelo Estado da Califórnia", advertem os ambientalistas. Por Mike Ludwig, do Truthout
"A poluição do fracking ameaça os ares, a água e o progresso na questão climática do nosso Estado" Créditos da foto: gaslandthemovie
"A poluição do fracking ameaça os ares, a água e o progresso na questão climática do nosso Estado" Créditos da foto: gaslandthemovie

Representantes da Administração de Informação de Energia (EIA), órgão ligado ao governo federal norte-americano, informaram na quarta-feira que estão a diminuir – em 96% – a proporção estimada de petróleo que seria retirada das formações de xisto de Monterey, Califórnia.

Ambientalistas comemoram o esforço legislativo como uma tentativa de colocar o fracking californiano em moratória.

Em 2012, as autoridades federais estimaram que poderiam ser retirados 13,7 mil milhões de barris de petróleo do campo de xisto em Monterey. Agora, a EIA diz que somente 600 milhões de barris de petróleo podem ser retirados usando as tecnologias existentes, como tratamento com ácido e fracking, a técnica controversa que envolve forçar milhões de litros de água contendo silício e químicos para quebrar formações rochosas.

A estimativa mais nova foi baseada num estudo de 2011 feito pela EIA e assumiu que as técnicas mais recentes de extração fariam com que as reservas de Monterey fossem as mais fáceis de extrair o xisto. Mais fáceis até do que as formações do Texas e do Dakota do Norte, onde a tecnologia do fracking alimentou o boom do gás e do petróleo. Mas parece que as formações geológicas no xisto de Monterey não são tão fáceis assim de ‘furar’, por terem sido impactadas pelas atividades sísmicas.

“Com as informações que conseguimos juntar, não tivemos evidências que comprovem que o uso do fracking neste local seja muito produtivo,” John Staub, analista da EIA, disse ao Los Angeles Times.

Uma investigação da Truthout em 2013 revelou que companhias petrolíferas experimentavam o fracking em mar aberto, no canal de Santa Bárbara, e que os fiscais federais permitiam o fracking sem revisão dos possíveis impactos ambientais.

A estimativa de 2012 tornou as companhias petrolíferas que operam na Califórnia ainda mais apressadas por usar o fracking, entre outros métodos para explorar a área de xisto de Monterey que contém dois terços das reservas de petróleo da nação. Uma investigação da Truthout em 2013 revelou que companhias petrolíferas experimentavam o fracking em mar aberto, no canal de Santa Bárbara, e que os fiscais federais permitiam o fracking sem revisão dos possíveis impactos ambientais.

Mesmo com a oposição inabalável dos grupos ambientalistas, o governador da Califórnia, Jerry Brown, abraçou o boom, o qual era originalmente projetado para criar 2,8 milhões de novos empregos para o Estado e 24,6 mil milhões de receita anual de impostos, de acordo com um estudo em 2013 que foi parcialmente financiado pela Associação de Petróleo dos Estados do Oeste (WSPA).

"Agora sabemos que a bonança económica do gás de xisto prometida pelo governador Brown não virá,” disse Jennifer Krill, diretora do grupo ambiental Earthworks. "O risco ambiental do fracking perdura, mas sem nenhuma possibilidade de ganho económico pelo Estado da Califórnia."

Sabrina Lockhart, porta-voz dos 'Californianos por um Futuro com Energia Segura' que falou à Truthout, disse que a estimativa da EIA não significa que a Califórnia deva afastar-se da produção doméstica de petróleo.

“Esses números refletem o facto de que há a necessidade de avanços na tecnologia para uma extração segura de petróleo. Quando essa tecnologia estiver disponível, as estimativas podem aumentar," disse Lockhart, representante um grupo pró-indústria que mobiliza a oposição a uma moratória do fracking na Califórnia.

Ambientalistas, no entanto, dizem que a nova estimativa deveria soar como uma sentença de morte para o fracking.

"A poluição do fracking ameaça os ares, a água e o progresso na questão climática do nosso Estado," disse Patrick Sullivan, porta-voz do Centro de Diversidade Biológica. "Companhias petrolíferas ainda utilizam o fracking e o tratamento com ácido perto das casas das pessoas em muitas comunidades. O governador Brown precisa fazer com que as industrias de petróleo parem de experimentar, no nosso solo, diferentes técnicas de exploração."

Dois senadores do estado da Califórnia recentemente introduziram o SB 1132 (projeto de lei no senado), o qual iria determinar, em âmbito nacional, uma moratória sobre o fracking e outros métodos de extração. O projeto enfrenta uma batalha, tendo em vista que esforços legislativos similares falharam no passado, mas os simpatizantes da causa esperam que as novas estimativas do governo mudem isso.

"O governador Brown deveria encarar os factos, ordenar moratória no fracking, e assim o legislativo irá aprovar o SB 1132," disse Krill.

Moratórias similares mantiveram o fracking sob controlo em Nova York e Maryland. Em Vermont o fracking foi banido recentemente.

Tradução de Isabela Palhares, para a

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