O ano passado, segundo as contas oficiais, a Amazónia brasileira perdeu 9.205 quilómetros de floresta, uma área equivalente ao Chipre. E a desflorestação continua a aumentar: mais 35% entre agosto de 2019 e julho de 2020. A pandemia terá reduzido os controlos de crimes ambientais e essa janela de tempo, sobretudo entre maio e abril, foi aproveitada por madeireiros ilegais.
Agosto e setembro são os meses das queimadas na região. Com elas aumentam os incêndios já que são umas das principais causas de incêndio na floresta tropical, dizem os especialistas.
Ainda antes desta época já os números eram inquietantes pela tendência de subida. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial brasileiro, em junho houve na região da Amazónia brasileira 2.248 ignições registadas. Muitas mais que as 1.180 do ano anterior. Em julho a tendência manteve-se. 6.803 incêndios aconteceram quando, em 2019, tinham sido 5318. Para já arderam mais cerca de 34% do que em igual período. E o pior é daqui para a frente.
De agosto sabe-se já que, nos 12 primeiros dias, o número de fogos é muito aproximado do que se passou em 2019, ano do aumento de terra queimada que alertou o mundo. Os números são dos organismos oficiais mas o presidente de extrema-direita do país, Jair Bolsonaro, negou na terça-feira que haja fogos na Amazónia.
Para além de desvalorizar a gravidade do que se passa, Bolsonaro é criticado pelo clima de impunidade que existe. À France Info, Romulo Batista, da campanha Amazónia da Greenpeace Brasil, exemplifica: “identificámos 207 proprietários que provocaram incêndios ilegalmente em reservas protegidas. Apenas 5% dentre eles receberam uma multa pelo que fizeram.”
E o que se passa é que se aproxima o ponto de não retorno para a Amazónia. É o que declara à Euronews, Carlos Nobre, do INPE: “quando toda esta área começar a tornar-se numa savana, é irreversível. É um processo irreversível que demora 30 a 50 anos. Depois disso, 60% a 70% da floresta amazónica estará convertida numa savana”.