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Alunos em isolamento: nem todas as escolas transmitem aulas online

Diretores escolares dizem que aulas online não são o “salvador da pátria” que os pais julgam. Professores dizem que exaustão se agravou com a pandemia e são agora 25 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina.
Foto de Paulete Matos

Nas últimas semanas, a transmissão da variante Ómicron entre a população mais jovem aumentou bastante e isso teve reflexos nas escolas, com muitas turmas a ficarem reduzidas a poucos alunos. Quem ficou em isolamento, pode ter acesso às aulas online, mas isso não acontece em toda a escola pública.

Uma reportagem do jornal Público dá conta de alguns destes casos com famílias onde coabitam alunos de diferentes ciclos de ensino e os métodos de acompanhamento da matéria variam bastante. Há quem tenha um plano diário de trabalho para compensar a ausência, quem consulte a plataforma Classroom para ter acesso aos resumos das aulas e outros materiais e quem tenha acesso às aulas no computador.

Ouvido pelo Público, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas desvaloriza o efeito da ausência das aulas online. Para Filinto Lima, o plano de ensino à distância não se resume a isso e pode passar pelo “uso frequente do Classroom, pode ser a visualização, complementar, de episódios do Ensino em Casa e há outras estratégias que cada escola desenvolve, tendo em conta os conteúdos programáticos”.

As aulas online não são o “salvador da pátria” que muitos pais julgam, acrescenta o dirigente escolar. “Se a escola tiver o computador virado para o quadro, os pais ficam mais satisfeitos, quando deveriam dar mais valor à plataforma Classroom, às aulas assíncronas, que podem ser gravadas, e a outros métodos recomendados pelos professores”, acrescenta Filinto Lima.

O Ministério da Educação diz não ter recebido queixas sobre a falta de aulas online para alunos isolados. Nas últimas semanas, os cerca de 150 mil testes à covid-19 realizados a professores e funcionários detetaram 2.700 casos positivos. Uma taxa de positividade de 1,8%, quando as anteriores operações de testagem detetavam entre 0,1% e 0,2% de casos positivos.

25 mil alunos sem aulas e professores estão exaustos, avisa a Fenprof

No início deste segundo período letivo, 400 professores entraram de baixa, deixando 25 mil alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina. As contas são da Fenprof e não incluem os casos de covid, em que o isolamento por sete dias fica abaixo dos 30 dias necessários para o direito à substituição.

A razão para a duplicação do número de alunos com falta de professores em relação ao fim do ano letivo anterior é que “os professores estão a entrar em burnout cada vez mais cedo”, afirma ao Público Vítor Godinho, especialista em concursos de professores na Fenprof.

Também Filinto Lima aponta a “exaustão e o cansaço, que já existia entre os professores e que a pandemia veio agravar”. Como 58% dos professores vão reformar-se até ao fim da década e os cursos dirigidos para o ensino viram a procura por parte dos alunos cair 70% na última década, o dirigente da associação de diretores das escolas públicas diz que este é um problema a que “o próximo governo não pode virar costas”, como fez até agora. Por exemplo, sugere, permitindo a entrada nos quadros aos “eternos contratados”, professores que estão a contrato há mais de dez anos.

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