Uma investigação do Institute for Strategic Dialogue, uma organização não-governamental britânica que pretende promover a tolerância, mostra que conteúdo anti-semita sobre o Holocausto é “promovido ativamente” pelo algoritmo do Facebook.
Uma experiência intuitiva começará por comprovar parte do problema. Bastará escrever “holocaust” na caixa de pesquisa desta rede social para começarem a aparecer, nas primeiras sugestões, recomendações de grupos e de páginas negacionistas, que contêm ligações para venda de literatura destinada a colocar em causa o extermínio dos judeus pelos nazis alemães ou páginas dedicadas ao negacionista britânico David Irving.
Indo mais a fundo, o ISD descobriu 36 grupos deste tipo no Facebook, com uma abrangência combinada de 366.068 seguidores. Pior, se alguém carregar no botão para seguir qualquer um destes grupos, a rede social trata de recomendar “conteúdo semelhante”, ou seja remete para outros grupos e páginas igualmente negacionistas.
O Facebook não é a única rede onde se propaga este tipo de mensagem. Os mesmos investigadores depararam-se com ele noutras redes sociais. Partindo, por exemplo, do termo “holohoax”, utilizado pelos defensores de que o extermínio organizado pelos nazis foi uma fraude inventada posteriormente, encontraram 19.000 ligações no Twitter, 9.500 vídeos no Youtube e 2.300 artigos no Reddit, apenas entre os conteúdos criados nos últimos dois anos.
Das 20 mensagens mais republicadas no Twitter que usavam este termo, 14 negavam explicitamente o Holocausto. Isto apesar da negação explícita não ser a única estratégia e de, por vezes, o negacionismo se esconder em linguagem mais cuidadosa ou codificada entre quem partilhe tais ideias.
Estas plataformas lidam de formas diferentes com o problema. O ISD nota, por exemplo, uma grande redução das menções ao “holohax” no Youtube desde a primavera de 2019, altura em que a plataforma decidiu banir este tipo de conteúdo. Ainda assim, parte dele persiste.
No Reddit também foram banido grupos negacionistas e há moderadores que apagam esse tipo de conteúdos, para além de muitos utilizadores que tratam de desacreditar os argumentos utilizados nesse sentido.
Segundo Jakob Guhl, investigador no ISD, o seu estudo demonstra que “as ações empreendidas pelas plataformas podem reduzir efetivamente o volume e visibilidade deste tipo de conteúdo anti-semítico. Estas empresas precisam, portanto, de se perguntar que tipo de plataforma querem ser: uma que ganhe dinheiro permitindo que o negacionismo do Holocausto floresça ou uma que tome uma posição de princípio contra este”.
O Facebook também tem vindo a ser pressionado a tomar medidas e, na passada quarta-feira, anunciou que iria banir as teorias de que os judeus “controlam o mundo”. Contudo, continua a permitir o negacionismo do Holocausto sob o pretexto de que faz parte de debate histórico legítimo e que não é discurso de ódio. Jacob Davey, outro investigador da mesma instituição acredita que isso é não querer ver que “a negação do Holocausto é uma ferramenta deliberada utilizada para deslegitimar o sofrimento do povo judeu e perpetuar tropos anti-semíticos que persistem e quando as pessoas o fazem explicitamente isso deve ser visto como um ato de ódio”.