“Sou o militante nº 15 do Partido Socialista e não podia ter escolhido melhor pátio para ser queimado pelos pequenos inquisidores que me têm feito provocações no Facebook nos últimos dias”, começou por dizer Alfredo Barroso, arrancando os primeiros aplausos à sua intervenção no comício bloquista no Pátio da Inquisição, em Coimbra, que contou também com intervenções das candidatas Marisa Matias, Shahd Wadi e Fabíola Cardoso e dos dirigentes do Bloco João Semedo e José Manuel Pureza, para além da atuação do músico JP Simões.
Barroso recordou que a razão principal do seu apoio à candidatura do Bloco foi a luta contra “um odioso pacto orçamental, imposto à UE por Angela Merkel e prontamente aprovado em Portugal pelo PSD, pelo PS e pelo CDS”. E disse não ter “qualquer dúvida de que Portugal vive hoje uma ditadura financeira de fachada democrática”, governado por “esta gente gente perigosa e medíocre que depositou o ovo da serpende neoliberal neste país para empobrecer os portugueses e destruir o Estado Social”. Gente que, na opinião do ex-chefe da Casa Civil da Presidência, “não devia ser confortada por um partido que se considera de esquerda - o meu partido, o PS - com promessas de futuros acordos e promessas de governo”.
“A atual direção do PS tem medo de enfrentar a censura da direita europeia, de Berlim, de Bruxelas, dos plutocratas, dos mercados financeiros e das agências de rating, que são quem de facto tem mandado no país nos últimos três anos”.
“Que os portugueses não se iludam: apesar das proclamações hipócritas e das trocas de insultos que temos assistido nos últimos dias, essas promessas existem de parte a parte e são certamente apadrinhadas com todo o carinho pelo pior Presidente da República que já tivemos em 40 anos de democracia”, prosseguiu Barros, antes de criticar a direção do PS por ter “medo de enfrentar a censura da direita europeia, de Berlim, de Bruxelas, dos plutocratas, dos mercados financeiros e das agências de rating, que são quem de facto tem mandado no país nos últimos três anos”. Mas também por estar a alimentar “a ilusão de que poderá cumprir, com políticas mais suaves e com muita doçura, as exigências do FMI, do BCE e da Comissão Europeia”.
Para Barroso, o PS “parece querer conciliar o inconciliável”, ao dizer que pretende acabar com a austeridade e ao mesmo tempo dispor-se a governar com o PSD e o CDS, estando disposto “a cumprir as regras draconianas impostas pelo pacto orçamental, que ameaçam estrangular o país com mais austeridade durante várias décadas”.
PS e PSD/CDS “votam da mesma maneira duas em cada três vezes que são chamados a votar”
Em seguida, Alfredo Barroso criticou a falta de escolha numas eleições onde dois os grandes partidos em quase nada se distinguem. “Desde há décadas, o Partido Socialista Europeu e o Partido Popular Europeu continuam a partilhar entre si o poder e os lugares no Parlamento Europeu, na Comissão Europeia e na maior parte das capitais desta Europa tão desunida”, lembrou Barroso, citando o estudo que concluiu que PS, PSD e CDS votam da mesma maneira duas em cada três vezes que são chamados a votar. “Esta convergência serve para alimentar o capitalismo do desastre”, defendeu.
“Este governo optou claramente pela defesa dos interesses dos mais ricos e poderosos, com a escandalosa cumplicidade do Presidente da República”
Para o histórico socialista, “a troika e a sua sucursal portuguesa transformaram-se em autênticas máquinas de punir e empobrecer os mais fracos e desprotegidos”. Barroso entende que “os portugueses têm vindo a ser cobaias nos últimos três anos de uma contrarrevolução neoliberal em benefício de uma ínfima minoria dos mais ricos e poderosos”, como o prova o crescimento das grandes fortunas nos anos da troika. “Este governo optou claramente pela defesa dos interesses dos mais ricos e poderosos, com a escandalosa cumplicidade do Presidente da República”, acusou.
Referindo-se ao Documento de Estratégia Orçamental recentemente divulgado, Alfredo Barroso diz que ele aponta em 2018 um “Portugal irreconhecível com serviços públicos reduzidos ao mínimo, educação e saúde de qualidade só para quem as puder pagar, pensões degradadas, muita emigração - enquanto houver liberdade de circulação na Europa - e uma democracia presa por um fio”.
Defensor da reestruturação da dívida, Alfredo Barroso deixou uma pergunta aos dirigentes do PS: “porque razão os direitos dos credores haveriam de prevalecer sobre os de todas as pessoas que constituem a comunidade política?” E em seguida deu a resposta: “Têm direitos os credores, como os têm os pensionistas, os desempregados, os utentes do SNS, os estudantes e as suas famílias”.