O Gabinete europeu da Organização Mundial de Saúde lançou esta quarta-feira um estudo, intitulado “Determinantes Comerciais de doenças não transmissíveis na Região Europeia da OMS”, no qual contabiliza, na área estudada, 2,7 milhões de mortes prematuras por ano causadas por quatro indústrias, a do álcool, do tabaco, dos alimentos ultraprocessados e dos combustíveis fósseis. Isto corresponde a cerca de sete mil mortes por dia.
O relatório debruça-se também sobre a “vasta gama de táticas” que estas indústrias usam para “maximizar lucros e minar a saúde pública”. Práticas que, esclarece a OMS, “alimentam a desigualdade e as taxas de cancro, doenças cardiovasculares e respiratórias crónicas e diabetes, e criam uma grande barreira às políticas de prevenção”.
Considera-se ainda que a concentração destes setores “num pequeno número de multinacionais poderosas permitiu-lhes exercer um poder significativo sobre os contextos políticos e jurídicos em que operam e obstruir regulamentações de interesse público que poderiam afetar as suas margens de lucro”.
Globalmente, as quatro indústrias causarão 19 milhões de mortes no mundo, “ou 34% de todas as mortes”. Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS, criticou a interferência das indústrias com vista a “bloquearem a regulação que protegeria o público de produtos nocivos e do marketing”. O seu marketing “explora pessoas vulneráveis”, enganando assim os consumidores através de “falsas alegações acerca dos benefícios dos seus produtos ou das suas credenciais ambientais”.
No documento mostra-se, através de vários casos de estudo, como a grande indústria “gasta recursos significativos para se opor à regulação no interesse público, moldar as provas científicas e o discurso público e externalizar o custo dos prejuízos que causa às pessoas e ao ambiente”. Isto inclui a disseminação de desinformação nos meios de comunicação social.
É sugerido que sejam implementadas “regulamentações mais fortes” no que diz respeito ao marketing de produtos nocivos para a saúde, às práticas monopolistas, aos lóbis, financiamento e conflitos de interesses, que se taxem as multinacionais, se melhore a segurança no emprego e as condições de trabalho entre outras.