Depois da detenção de cerca de vinte skinheads em 2016, no âmbito de uma investigação da Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária e da sua libertação pelo tribunal de instrução, a mesma investigação, que se refere a um período compreendido entre 2013 e 2017, levou o Ministério Público (MO) a constituir arguidos 37 neonazis, suspeitos por crimes de ódio, nomeadamente “tentativas de homicídio, contra negros, muçulmanos e comunistas”, noticiou o Diário de Notícias no passado sábado. Tratam-se de membros do movimento Portugal Hammer Skins (PHS), que estão envolvidos num caso que ao final de quatro anos de investigação viu as suspeitas confirmadas e os crimes agravados.
Já em 2007 o MP tinha levado a cabo uma operação que julgou 36 skinheads, entre os quais mário Machado, ex-líder do movimento PHS.
“Os arguidos deste novo inquérito estão indiciados por agredirem violentamente as vítimas, algumas quase até à morte, motivados por ódio racial, homofóbico e político-ideológico. Tentativas de homicídio, ofensas à integridade física qualificadas (pela motivação), posse de armas de fogo ilegais, injúrias e ameaças e associação criminosa são os principais crimes em causa.” Refere o Diário de Notícias.
Entre as 18 vítimas do processo foram alvo de crimes de ódio, uma delas trata-se de um militante comunista que foi espancado por um guarda prisional quase até à morte, tendo ficado com sequelas para o resto da vida. O guarda em causa tem justificado a sua presença no local com o auxílio às vítimas, mas a investigação contraria o relatado. Ao longo do processo identificaram-se novos casos e confirmaram-se outros, alguns que já tinham sido arquivados.
Entre os arguidos, 11 já foram anteriormente identificados em processos promovidos por organizações neonazis, 5 dos quais foram anteriormente condenados pela morte de Alcindo Monteiro, em 1995, no Bairro Alto. A reincidência de vários arguidos junta-se a um conjunto de fatores que levam os investigadores a considerar que existe um “núcleo duro” que tem garantido a continuidade da atividade e a defesa dos seus ideais, mantendo-se “na retaguarda, a controlar e a gerir recrutamentos” num grupo hierarquicamente organizado. Foram identificados participantes em eventos neonazis internacionais assim como iniciativas nacionais que acolheram a participação de neonazis internacionais.
Segundo o último relatório internacional “Global Index for terrorismo” relativamente ao ano 2019, o número de vítimas mortais da extrema-direita é crescente. Numa análise a 19 países da Europa Ocidental, da América do Norte e da Oceania, cresceu de 11 em 2017, para 77 para 2019, ainda sem contabilizar o último trimestre de 2019.