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13 de maio: o dia em que a Lei Áurea aboliu a escravatura no Brasil

132 anos depois, o racismo continua a ser uma herança violenta na sociedade brasileira, onde os não-brancos são a maioria dos pobres, dos desempregados, dos trabalhadores precários e informais e dos reclusos. A escravidão acabou, mas as suas marcas não. Por Ana Catarina Marques.
Uma das imagens de Zacimba Gaba princesa angolana que comandou durante muitos anos ataques a navios para resgatar pessoas negras escravizadas.
Uma das imagens de Zacimba Gaba princesa angolana que comandou durante muitos anos ataques a navios para resgatar pessoas negras escravizadas.

Caetano Veloso Veloso canta “a 13 de maio em Santo Amaro na Praça do Mercado, os pretos celebraram, talvez hoje ainda o façam, o fim da escravidão, da escravidão, o fim da escravidão” numa ode à libertação das pessoas escravizadas no Brasil de 1888. A música do álbum “Noites do Norte” assinala a data em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, resumindo em dois parágrafos o essencial: a liberdade total de todas as pessoas escravizadas. O cantor baiano remata na sua letra - “pra saudar Isabel, ô Isabé” - mas será mesmo ela a protagonista desta libertação? Ou será apenas uma ferramenta colonizadora de branqueamento da história negra?

A história da libertação de pessoas escravizadas ultrapassa Leis assinadas e Princesas em palácios. Também de mulheres negras se fez luta pelo fundamental da condição humana - a liberdade. “Ativistas” (na altura esta palavra ainda não existia) organizadas em Quilombos - comunidades de pessoas fugitivas da condição de escravas - protagonizaram batalhas clandestinas que contribuíram para a emancipação das pessoas negras no Brasil:

Adelina Charuteira, vendia charutos para angariar dinheiro para a luta, uma das caras da Sociedade Abolicionista Clube dos Mortos.

Dandara, guerreira, uma das líderes do Quilombo dos Palmares, o maior símbolo da resistência das pessoas escravizadas.

Marianna Crioula, protagonista de uma fuga de 300 pessoas escravizadas da região da Paraíba.

Esperança Garcia, organizadora de uma petição a denunciar os maus tratos físicos por parte do feitor da Fazenda Algodões.

Tia Simoa, cabeça da Greve dos Jangadeiros que decretou o fim do embarque de pessoas escravizadas no porto do Ceará.

Zacimba Gaba, princesa angolana que comandou durante muitos anos ataques a navios para resgatar pessoas negras escravizadas.

Brasil, um país de todas as cores mas monocolor no poder político e económico. Que cor têm os dedos das pessoas que apertam os botões do ascensor? Qual a cor da pele das empregadas domésticas? Quem continua a trabalhar nas fazendas? Muitos são os exemplos que poderiam ser dados, mas a premissa é a mesma - a serventia é não-branca.
 
Acabando como comecei - uma música. Desta vez, o samba-enredo da Mangueira no Carnaval de 2019. A "história que a História não conta", uma ode às Dandaras e às caras de Cariri que nos explica a verdade: "não veio do céu nem das mãos de Isabel, a Liberdade, é um dragão no mar de Aracati":

 

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