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O pingo amargo da evasão fiscal

O grupo Jerónimo Martins fatura mais de 8 mil milhões de euros, mas não pode contribuir com o pagamento de impostos para o país que lhe garante os lucros.

Segundo a imprensa, os 56% que a família Soares dos Santos detém na Jerónimo Martins, dona da marca Pingo Doce, passaram a ser controlados indiretamente, através de uma sociedade com sede na Holanda. A passagem das ações da família de Alexandre Soares dos Santos para uma sociedade na Holanda, onde estão sediados vários offshores, foi feita no último dia de 2012. Em outras alturas, Alexandre Soares dos Santos já tinha admitido retirar a participação de Portugal por questões fiscais.

Estamos perante mais uma manifestação do grande patriotismo dessas figuras beneméritas da pátria, como Alexandre Soares dos Santos. Isso de pagar impostos, sofrer grandes reduções nos salários, fazer sacrifícios, é para a arraia-miúda…

Os portugueses servem para comprar nos supermercados a preços, frequentemente demasiado altos, para garantir os chorudos lucros do grupo Jerónimo Martins.

Servem também para trabalhar nos supermercados com baixos salários, contratos precários, a qualquer dia ou hora (até no 1º de Maio).

Enquanto o comum dos cidadãos se vê confrontado com o agravamento das suas condições de vida, com a destruição dos seus direitos laborais e sociais, com a liberalização dos despedimentos, outros há, que imunes às dificuldades que o país enfrenta, aumentam todos os anos os seus lucros, sem assumirem qualquer responsabilidade social.

O grupo Jerónimo Martins fatura mais de 8 mil milhões de euros, mas não pode contribuir com o pagamento de impostos para o país que lhe garante os lucros.

A nossa sugestão só pode ser uma. Se Portugal não serve para sede ou para pagar impostos, então levem os supermercados para a Holanda.

Se os portugueses só servem para comprar e pagar os chorudos lucros e para trabalhadores precários, não precisamos de tais beneméritos no nosso país. Por cá precisamos de empresas económica e socialmente responsáveis que ajudem o progresso do país.

Como é óbvio esta continuada evasão fiscal dos grandes interesses económicos só é possível com a colaboração dos políticos público-privados (agora do PSD-PP), parte interessada nos interesses em jogo. O crime compensa porque quem tem o dever de defender o interesse público, não promove um verdadeiro combate à evasão fiscal e comporta-se como marioneta dos interesses privados…

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
(...)

Neste dossier:

A fuga do PSI-20 para a Holanda

A transferência da sede da holding do grupo Soares dos Santos para a Holanda chamou a atenção para uma prática dos grandes grupos portugueses. O grupo proclama que não se trata de fuga aos impostos, a Google vangloria-se de ter “poupado” 3.100 milhões de dólares com o esquema da “sanduíche holandesa”. O Bloco apresenta projetos para combater a fuga ao fisco. Dossier organizado por Carlos Santos.

Um grupo exemplar

Que têm em comum António Barreto, Dias Loureiro, António Borges e Artur Santos Silva? Todos estão na folha de pagamentos da Jerónimo Martins, um grupo exemplar, não só na esperteza fiscal. Por Jorge Costa

Pingo Doce distribui panfletos aos clientes

A Jerónimo Martins está a distribuir aos clientes do Pingo Doce um panfleto assinado pelo administrador Pedro Soares dos Santos “em nome dos mais de 25 mil colaboradores que o Pingo Doce emprega em Portugal”, onde se queixa de “graves inverdades” e refere, tal como também se pode ler na entrada do site dos supermercados, que “a sede do Pingo Doce continua em Portugal”.

Bloco apresenta dois projetos para combater a fuga fiscal das holdings

O Bloco apresentou na AR dois projetos para combater a fuga ao fisco dos grandes grupos económicos: um (que “define o conceito de “direção efetiva em território português”) para alargar a malha do código do imposto para as empresas que saiam do país continuem a pagar impostos em Portugal e outro, que “elimina as isenções de tributação sobre mais-valias obtidas por SGPS e fundos de investimento”.

Fuga das empresas do PSI-20

19 dos 20 grupos económicos do PSI-20 (o índice da Bolsa de Lisboa) têm a sede em outros países, para auferirem de vantagens fiscais em relação a Portugal. A Holanda é o destino preferido das empresas do PSI-20.

“Sanduíche holandesa” permite à Google pagar menos 3.100 milhões de dólares

A “sanduíche holandesa” é um estratagema que as multinacionais usam para fugir ao fisco e pagar menos impostos. A Google anunciou no final de 2010 que nos três anteriores tinha pago menos 3.100 milhões de dólares, usando subsidiárias na Holanda, na Irlanda e nas Bermudas.

Em 2011, quase 70% do investimento de Portugal no exterior foi para a Holanda

Entre janeiro e outubro de 2011, 6.587 milhões de euros, 70% do investimento direto de Portugal no exterior foi para a Holanda. Entre 1999 e 2009, a Holanda foi sempre o principal destino do investimento de empresas portuguesas no exterior.

Pingo Doce passa a pagar impostos na Holanda

O capital maioritário que a família Soares dos Santos detém na Jerónimo Martins, empresa proprietária do Pingo Doce, passaram a ser controlados indiretamente através de uma sociedade na Holanda, país com um regime fiscal muito mais suave. Bloco critica decisão "mesquinha" e recorda que 19 das 20 empresas do PSI 20 já se encontram cotadas na Holanda. (notícia atualizada).

Lucrar lá fora, não pagando cá dentro

Esta é a história de uma casa construída para ser roubada. E os rostos deste assalto são os das maiores empresas portugueses.

Sabe bem… a poucos

O grupo [Soares dos Santos] já conta com muitas condenações por violações não apenas da “ética e do comportamento social responsável”, mas também da legislação fiscal portuguesa...

Fuga de impostos para a Holanda causa indignação

O truque fiscal de Alexandre Soares dos Santos já tinha sido seguido por 19 das 20 empresas cotadas no PSI-20 e pela própria Jerónimo Martins, que usa a Holanda como sede dos investimentos na Polónia. Mas a imagem de "portugalidade" associada aos seus produtos fica agora ameaçada, dizem os especialistas.

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O grupo Jerónimo Martins fatura mais de 8 mil milhões de euros, mas não pode contribuir com o pagamento de impostos para o país que lhe garante os lucros.

As migalhas que sobram da toalha da mesa de um capitalista

O grupo Jerónimo Martins e em particular o seu maior accionista, Alexandre Soares dos Santos, decidiram em Carta Aberta reconhecer que os salários que pagam aos seus trabalhadores/as são miseráveis e de forma “solidária” ajudar os trabalhadores em situações de necessidade extrema.