O pingo amargo da evasão fiscal

porÁlvaro Arranja

O grupo Jerónimo Martins fatura mais de 8 mil milhões de euros, mas não pode contribuir com o pagamento de impostos para o país que lhe garante os lucros.

08 de janeiro 2012 - 17:02
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Segundo a imprensa, os 56% que a família Soares dos Santos detém na Jerónimo Martins, dona da marca Pingo Doce, passaram a ser controlados indiretamente, através de uma sociedade com sede na Holanda. A passagem das ações da família de Alexandre Soares dos Santos para uma sociedade na Holanda, onde estão sediados vários offshores, foi feita no último dia de 2012. Em outras alturas, Alexandre Soares dos Santos já tinha admitido retirar a participação de Portugal por questões fiscais.

Estamos perante mais uma manifestação do grande patriotismo dessas figuras beneméritas da pátria, como Alexandre Soares dos Santos. Isso de pagar impostos, sofrer grandes reduções nos salários, fazer sacrifícios, é para a arraia-miúda…

Os portugueses servem para comprar nos supermercados a preços, frequentemente demasiado altos, para garantir os chorudos lucros do grupo Jerónimo Martins.

Servem também para trabalhar nos supermercados com baixos salários, contratos precários, a qualquer dia ou hora (até no 1º de Maio).

Enquanto o comum dos cidadãos se vê confrontado com o agravamento das suas condições de vida, com a destruição dos seus direitos laborais e sociais, com a liberalização dos despedimentos, outros há, que imunes às dificuldades que o país enfrenta, aumentam todos os anos os seus lucros, sem assumirem qualquer responsabilidade social.

O grupo Jerónimo Martins fatura mais de 8 mil milhões de euros, mas não pode contribuir com o pagamento de impostos para o país que lhe garante os lucros.

A nossa sugestão só pode ser uma. Se Portugal não serve para sede ou para pagar impostos, então levem os supermercados para a Holanda.

Se os portugueses só servem para comprar e pagar os chorudos lucros e para trabalhadores precários, não precisamos de tais beneméritos no nosso país. Por cá precisamos de empresas económica e socialmente responsáveis que ajudem o progresso do país.

Como é óbvio esta continuada evasão fiscal dos grandes interesses económicos só é possível com a colaboração dos políticos público-privados (agora do PSD-PP), parte interessada nos interesses em jogo. O crime compensa porque quem tem o dever de defender o interesse público, não promove um verdadeiro combate à evasão fiscal e comporta-se como marioneta dos interesses privados…

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