Bloco questiona governo sobre rapaz baleado por PSP

16 de janeiro 2009 - 20:16
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Afinal, a bala foi disparada a menos de um palmo da cabeça do jovem de 14 anos. Foto Filipeb/FlickrA morte de Elson Sanches, o jovem de 14 anos baleado por um agente da PSP na Amadora, e as contradições na versão policial dos acontecimentos, levaram o Bloco de Esquerda a pedir explicações ao governo. Para este sábado está marcada uma manifestação para "exigir justiça" e não deixar "que este caso caia no esquecimento como os anteriores".

 

Elson Sanches, conhecido por Kuku, seguia na noite de sábado com quatro amigos num carro que a polícia tinha identificado como tendo sido furtado. Ao sinal policial para parar, todos fugiram do carro e foram perseguidos pelos agentes, mas Kuku acabou por ser baleado na cabeça por um dos agentes.



Na primeira versão dos acontecimentos, feita na reconstituição na própria noite, sem outra testemunha que não o agente que disparou a arma, ele afirmou que vira uma arma na sua mão quando Kuku lhe escapou, depois de se envolverem numa luta dentro duma vala. Na segunda versão, segundo o jornal "Correio da Manhã", o agente passou a dizer que Kuku lhe teria apontado uma arma quando subiu a vala para lhe escapar, obrigando o polícia a disparar numa distância nunca inferior a dois metros.



A PSP emitiu logo nessa altura um comunicado a justificar a acção do agente, “perante a ameaça com que o elemento policial se deparou e após esgotadas as advertências e avisos necessários à extinção do perigo iminente, foi necessário fazer recurso efectivo à arma policial”. Mas a perícia feita posteriormente ao gorro do casaco de Kuku prova que o disparo da pistola do PSP terá sido feito a menos de um palmo de distância da cabeça do jovem, desmentindo as primeiras versões e o próprio comunicado policial.



A deputada bloquista Helena Pinto não entende como é que "no decurso de uma investigação" a cargo da Polícia Judiciária, a PSP "aceita como válida a primeira justificação do agente a ser investigado"



"Esta discrepância, nomeadamente no que diz respeito à posição e à distância a que se encontrava o jovem quando foi abordado pelo agente durante a perseguição, põe em causa a forma precipitada como a PSP reagiu, ao dar como válida a primeira versão dos acontecimentos, antes mesmo de estar concluído o inquérito e serem oficialmente divulgados os resultados dos exames periciais", diz o Bloco de Esquerda, que pede explicações ao ministro a Administração Interna sobre mais uma morte durante uma perseguição policial, apesar dos repetidos avisos da Inspecção-Geral da Administração Interna aos agentes policiais, para que evitem disparos sobre suspeitos em fuga.



O caso do jovem assassinado não ficará em silêncio nos próximos tempos e está marcada uma concentração em frente à esquadra do Casal de S. Brás, na Amadora, convocada pela Plataforma Gueto, com o objectivo de mostrar o "descontentamento face à forma como a polícia tem actuado nos bairros, junto dos jovens imigrantes, e de solidarizar com a família de Kuku na sua procura por justiça, não deixando que este caso caia no esquecimento como os anteriores", segundo o comunicado divulgado na sexta-feira.



A Plataforma Gueto reagiu também às notícias veiculadas por alguma imprensa sobre esta manifestação, afirmando que "lutar pelos direitos da nossa comunidade inscritos na constituição deste país e na Carta Universal dos Direitos Humanos, não é extremismo nem um apelo à violência contra o estado, mas sim um exercício de cidadania". Este colectivo que junta jovens "oriundos de vários bairros e de diferentes origens" diz ainda que a sua motivação "não é apelar à violência mas sim à justiça como uma condição essencial para a paz social".

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