Maternidade Alfredo da Costa encerrará portas até ao final do ano

15 de June 2012 - 9:04

Esta quinta feira, o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) anunciou, em comunicado, o encerramento da MAC até ao final de 2012. O CHLC alega a necessidade de redução de custos para justificar o encerramento. Deputado do Bloco João Semedo considera esta decisão “um gravíssimo erro”. Francisco Louçã acusa Passos Coelho de ser o "cangalheiro da maior maternidade de Portugal".

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O documento foi tornado público após uma reunião entre a presidente do conselho de administração do CHLC, Teresa Sustelo, e os diretores dos serviços médicos e os enfermeiros-chefe, durante a qual foi comunicado a estes profissionais que a Maternidade Alfredo da Costa encerra até ao final de dezembro e que as equipas vão ser transferidas para o Hospital Dona Estefânia.

No comunicado, a administração do CHLC avança que pretende “obter ganhos de eficiência e eficácia, reduzindo custos totais, através da centralização, fusão e extinção de valências, serviços e hospitais" e sublinha a “necessidade absoluta de reduzir custos, evitando o mais possível a existência de redundâncias".

A diretora de serviço de obstetrícia da MAC, Ana Campos, que esteve presente na reunião com a administração da CHLC, esclareceu, à Rádio Renascença, que foi explicado aos profissionais que "tinha que haver uma redução de custos com as instituições do centro hospitalar” e que “manter hospitais separados custava muito dinheiro e que, portanto, para uma redução de custos, a maternidade teria que ser encerrada”.

Alguns serviços da MAC vão ser transferidos para a Estefânia, mas "outros vão ser esvaziados ou mandados para outro sítio qualquer e gente para o desemprego, como é evidente", frisou a diretora de serviço de obstetrícia da Maternidade.

Sindicato dos enfermeiros vai "continuar a luta" pela MAC

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) já veio, entretanto, garantir que vai "continuar a luta" pela defesa da Maternidade Alfredo da Costa (MAC).

"Temos algumas preocupações, nomeadamente, [saber] para onde vão todos os trabalhadores da MAC, tanto os que têm vínculo com o CHCL, como os que tem vínculo precário, e para onde pensam transportar todas as valências da MAC", frisou a coordenadora da direção regional de Lisboa do SEP.

Ministério da Saúde prossegue com "política de desmantelamento dos serviços públicos de saúde"

A Federação Nacional dos Médicos alertou esta sexta feira, por sua vez, para as “gravíssimas consequências” que esta decisão pode acarretar para as grávidas, recém-nascidos e profissionais de saúde.

“É uma situação, na generalidade dos casos, completamente obscura porque nem o Ministério da Saúde (MS), nem o Governo alguma vez explicaram quais as medidas que vão aplicar àquele conjunto alargado de profissionais dos vários sectores de atividade”, que nem sequer sabem “qual vai ser o seu futuro profissional e até o seu futuro a nível familiar”, frisou Mário Jorge Neves.

“Este encurtamento sem qualquer fundamento, numa atitude ainda mais precipitada do que aquela que estava anteriormente em desenvolvimento, revela um propósito muito claro da parte do Ministério da Saúde em prosseguir esta política de desmantelamento dos serviços públicos de saúde”, adiantou ainda.

Para este médico, esta decisão evidencia também “uma enormíssima desorientação, porque num mês o ministério diz uma coisa, noutro mês diz outra”.

“Há aqui uma atitude da parte do Governo e, concretamente, do Ministério da Saúde em caminhar para a destruição acelerada da Maternidade Alfredo da Costa sem ter nenhuma medida sustentável de alternativa que permita salvaguardar um património absolutamente indiscutível que é qualidade das equipas, a capacidade instalada de alta diferenciação técnica e científica”, sublinhou.

Deputado João Semedo assinala contradições do governo

Em declarações à TSF, o deputado bloquista João Semedo assinalou as contradições do governo no que respeita às razões que justificam o encerramento da MAC.

“A razão que foi [agora] anunciada para encerrar a maternidade é exclusivamente do domínio da poupança, uma razão económico-financeira, e não foi isso que o Governo disse”.

Anteriormente, o executivo justificava o encerramento da MAC com a necessidade de “melhorar a qualidade da assistência materno-infantil na região de Lisboa”, relembrou João Semedo.

O dirigente do Bloco considera que o encerramento da MAC é um “gravíssimo erro”, sendo que esta é a “melhor maternidade do país”.

Passos Coelho é o "cangalheiro da maior maternidade de Portugal"

Durante o debate parlamentar realizado esta sexta feira, Francisco Louçã questionou o primeiro ministro sobre como este se sente “como cangalheiro da maior maternidade de Portugal?"

O dirigente bloquista lembrou ainda que a Carta Hospitalar “nada previa sobre este encerramento” e que, se o governo afirmava anteriormente que queria assegurar a qualidade dos serviços, agora adianta que irá fechar este estabelecimento “por razões económicas”. Por outro lado, o governo afirmou que não queria dividir os serviços e agora inicia essa mesma divisão, lembra Louçã.

Pedro Passos Coelho escusou-se a “especular” sobre o encerramento, até ao final do ano, da Maternidade Alfredo da Costa, afirmando que teve conhecimento dessa possibilidade através dos jornais, mas que não tem qualquer indicação do Ministério da Saúde sobre essa intenção.

Mediante esta resposta, Francisco Louçã mostra-se curioso com o funcionamento do Conselho de Ministros pois o fecho da MAC foi tornado público esta quinta feira por um comunicado da Administração do Centro Hospitalar.

"Há alguma decisão estratégica para o país que passe por si?", questionou o deputado bloquista.

 

Notícia atualizada a 15/06/2012, pelas 14:50.