Crise na área artística é o resultado de "uma negligência e falta de visão gritantes"

05 de July 2010 - 10:59

Para João Fiadeiro, fundador da Companhia RE.AL, esta situação é o resultado de um trabalho que não foi feito nos últimos 20 a 30 anos ao nível de uma estratégia para a cultura. Governo “recua” e promete devolver verba retida do “Cinema” em 2011.

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João Fiadeiro comenta os cortes na cultura classificando-os como "cegos, feitos sem diálogo e sempre com o mesmo argumento: no futuro será melhor". Foto Dudu Viana/ Flickr.

A actual crise na área artística é o resultado de "uma negligência e falta de visão gritantes" acumuladas ao longo da última década por sucessivas tutelas da cultura, essa é a opinião do bailarino e coreógrafo João Fiadeiro, fundador da Companhia RE.AL. Em entrevista à agência Lusa, Fiadeiro afirmou que o seu descontentamento advém de uma situação estrutural.

"As crises são cíclicas, vão e vêm, e temos que aprender a viver com elas. Isso é normal e faz parte da vida. Mas esta situação é o resultado de um trabalho que não foi feito nos últimos 20 a 30 anos ao nível de uma estratégia para a cultura", criticou. O coreógrafo considerou ainda que a actual crise surge numa altura em que a "comunidade artística está muito fragilizada" porque "não existe um suporte na área laboral, na internacionalização, e noutros aspectos da vida profissional dos artistas".

Após a marcação de uma concentração em Lisboa, que ocorre nesta segunda-feira, no Teatro Maria Matos, a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, esclareceu que os cortes orçamentais afectaram em particular o Instituto do Cinema Audiovisual (ICA), só dizem respeito aos segundo semestre de 2010 e que a verba retida será devolvida em 2011.

Para João Fiandeiro, "Estes esclarecimentos da ministra só revelam que foi mal anunciado logo à partida. E é uma falta muito grande porque nestas situações é fundamental a forma como se anuncia um problema", avaliou, comentando que no passado "não foi criada uma relação de confiança". O bailarino e coreógrafo afirmou ainda que tem muita dificuldade em aceitar os cortes anunciados porque "são cegos, feitos sem diálogo e sempre com o mesmo argumento: no futuro será melhor".

Para o produtor Luís Urbano a Plataforma de Cinema se congratula com as respostas "concretas e positivas" de Gabriela Canavilhas, mas que continua a ser pertinente reflectir sobre a aplicação do decreto-lei e ouvir os responsáveis de outras áreas da cultura.