Cinema: Cortes na cultura já se fazem sentir

28 de June 2010 - 15:33

Suspensão da rodagem do próximo filme de João Canijo, Sangue do Meu Sangue, atinge cerca de 45 trabalhadores, entre actores, técnicos e outros membros da equipa.

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Polaroid - Foto de Adriano Agulló

Para Pedro Borges, da produtora Midas Filmes, os cortes no financiamento da cultura vão certamente afectar outros projectos, como já aconteceu com a rodagem do filme Sangue do meu Sangue, de João Canijo. A produtora esperava esta semana uma prestação de cem mil euros do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), uma parcela do apoio obtido na sequência de concurso público, do qual duas prestações tinham já sido recebidas.

Com o Decreto-Lei 72-A/2010, em vigor desde 18 de Junho, diversos projectos devem ser interrompidos. O decreto consagra a cativação de 20 por cento das verbas do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) a todos os organismos dependentes do Ministério da Cultura e uma perda de 13 milhões no orçamento.

Para diversos produtores, realizadores, actores, técnicos e responsáveis de festivais e cineclubes, as medidas anunciadas representam um grande risco para o sector. Com uma redução de cerca de dois milhões de euros para os programas de apoio muitas produtoras podem mesmo entrar em falência. Para Margarida Gil, realizadora e presidente da Associação Portuguesa de Realizadores (APR), “vivemos um período muito perigoso, e esta é uma estratégia de corte que vem de trás”.

Margarida Gil afirmou mesmo que “o cinema português está já no limiar da sobrevivência”, e envolve muita gente que se encontra “sem trabalho nem perspectivas”. Posição partilhada por Dario Oliveira, membro da direcção do festival Curtas Vila do Conde, para quem a estratégia de cortes generalizados é “uma forma perversa” de resolver a crise. “Que se corte na verba de aquisições para a Colecção Berardo e em muitos outros maus negócios que o Estado vem fazendo nos últimos anos, muito bem. Mas não nas condições de trabalho dos artistas e dos agentes culturais”.

Nesta segunda-feira está marcada uma reunião aberta a todos os profissionais do sector do cinema para discutir o impacto das medidas anunciadas pelo governo. Para além disto está prevista uma assembleia-geral de artistas de todos os sectores de produção cultural para o final da próxima semana para produzir uma declaração sobre a situação da Cultura no país e anunciar potenciais medidas de conjunto.