Uma coligação de mais de 190 organizações de defesa dos direitos humanos exige que as grandes marcas da indústria de moda deixem de recorrer a fornecedores que exploram a minoria muçulmana na província de Xinjiang, na China, que garante 20% da produção mundial de algodão, noticia o jornal Público.
A crescente incitação à intolerância política e étnica face à comunidade uigur por parte do Partido Comunista Chinês, os mecanismos de controlo biométrico e digital, e um regime penal arbitrário e discriminatório aliado aos interesses do capital destas multinacionais, transformaram progressivamente a região num inferno de campos de trabalhos forçados, tortura, separação forçada e esterilização de mulheres para controlo de natalidade.
Em 2009, o Exército de Libertação Popular da China matou pelo menos 400 uigures que se manifestavam pacificamente em Urumqi, a capital da região autónoma de Xinjiang, um incidente que, à altura, impediu a participação do Presidente chinês na cimeira do G8, mas não teve consequências diplomáticas agravadas desde então.
Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos, 84% do algodão produzido na China, o maior produtor desta matéria-prima a nível mundial, é proveniente de Xinjiang, tendo 20% do algodão mundial origem nesta província, fornecendo depois fábricas de roupa em todo o mundo, incluindo o Vietname, Bangladesh ou Camboja.
Pelo menos uma em cada cinco peças de roupa vendidas em todo o mundo terão como base o algodão produzido no noroeste da China, com pelo menos um milhão de uigures em campos de detenção, alegam as Nações Unidas.
Ainda segundo a denúncia desta coligação, o governo chinês estará a subsidiar estas marcas multinacionais à expansão de fábricas em toda a China, fornecendo uigures detidos nos campos de detenção, no que se equipara a trabalho escravo e tráfico de seres humanos.
“As marcas globais precisam de se questionar a si próprias sobre o quão confortáveis estão ao contribuir para uma política genocida contra o povo uigur”, afirmou ao The Guardian Omer Kanat, director executivo do Projecto de Direitos Humanos Uigur, uma organização de defesa dos direitos dos uigures e de outras minorias muçulmanas, sediada nos Estados Unidos.
“As marcas e os retalhistas deveriam ter abandonado há muito tempo [a conivência com o trabalho forçado uigur], mas não o fizeram e é por isso que este apelo público é tão importante e necessário”, acrescentou à BBC Chloe Cranston, da Anti-Slavery International, uma das mais de 190 organizações envolvidas na campanha. “Não se trata apenas de acabar a relação com um fornecedor. É também sobre adoptar uma abordagem compreensiva”, concluiu.