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Refugiadas vítimas de violência sexual negligenciadas pelo sistema de asilo do Reino Unido

Estudo divulgado pela Universidade de Birmingham revela que as vítimas de violência sexual enfrentam novos abusos e traumas como resultado do processo de asilo no Reino Unido e são sistematicamente negligenciadas pelas autoridades.
Foto Russell Watkins/Department for International Development (arquivo).

O relatório do projeto Sereda, que tem como objeto de investigação a violência sexual e de género contra refugiados, revela que, entre outras questões, as entrevistas de asilo são insensíveis ao género e, por vezes, desumanas, que existe assédio sexual em acomodações temporárias, falta de acesso a cuidados de saúde e apoio psicológico.

De acordo com a equipa de investigação do Sereda, estes são apenas alguns dos fatores que agravam o trauma dos migrantes forçados no Reino Unido. E as vítimas são, na sua grande maioria, mulheres e meninas.

Jenny Phillimore, professora da Universidade de Birmingham, assinalou que “há muitas coisas que poderíamos fazer que não custam nada ou custam pouco”, e que permitiriam “tratar as mulheres de uma forma que não as deixasse com cicatrizes para o resto das suas vidas”.

“Temos toda uma gama de recomendações, mas, em última análise, queremos um sistema de asilo humano que não trate as pessoas de maneira diferente porque não são cidadãs. Precisamos de uma ética de cuidado”, frisou Phillimore, citada pelo The Guardian.

Algumas das recomendações incluem aconselhamento pré e pós-entrevista, a participação de advogados independentes nas entrevistas, alojamento para mulheres solteiras em asilos de género único, bem como alojamento especial para pessoas LGBTQI e maior investimento em serviços de apoio psicológico.

Este estudo envolveu extensas entrevistas entre 2018 e 2020 com 68 refugiadas no Reino Unido que foram vítimas de violência sexual e de género, bem como a 26 pessoas que trabalham com sobreviventes.

Hane Leshaj foi vítima de violência sexual e agora trabalha com a Refugee Women Connect em Liverpool. A refugiada albanesa estava grávida quando fugiu para o Reino Unido, após escapar do seu marido violento e ser rejeitada pela sua família. Ela passou quase oito anos no sistema de asilo, tendo sido forçada a mudar-se oito vezes. Num dos alojamentos, Leshaj foi atacada fisicamente por outro residente. “Demoraram 10 dias para me realojarem num lugar seguro. Todas essas coisas afetam a saúde mental e o bem-estar. Achei que estaria mais segura”, referiu Leshaj.

Uma investigação anterior revelou que, de 72 mulheres que procuraram asilo no Reino Unido, 66% sofreram perseguição relacionada ao género de alguma forma, incluindo violação, violência sexual, prostituição forçada e casamento forçado, perpetrado por parceiros, familiares, soldados, polícia e guardas prisionais.

O Home Office, órgão responsável pelas resoluções de imigração do Reino Unido, garantiu que “aqueles que sofrem violência doméstica são vítimas em primeiro lugar, independentemente do seu estatuto de imigração”, e são-lhes dados “a ajuda e o apoio de que precisam e merecem”. “Impactos em pessoas vulneráveis ​​e considerações de igualdade estão na frente e no centro do nosso trabalho”, alegou.

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