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Os países da zona euro estão a gastar todos o mesmo no combate à crise?

A diferença entre os gastos dos países do Norte e do Sul é mais um sinal da fratura europeia: os primeiros têm apresentado pacotes financeiros bastante mais ambiciosos que os segundos. Entre os motivos que o explicam estão a maior capacidade orçamental e o menor endividamento.
Angela Merkel e Mark Rutte. Foto União Europeia ©

Números do desemprego a disparar, perdas de rendimento significativas e previsões de quebra inédita do PIB têm ocupado as notícias um pouco por toda a Europa. À medida que as consequências sociais e económicas da pandemia começam a revelar-se nas estatísticas, os governos correm contra o tempo para apresentar medidas que mitiguem os efeitos devastadores do confinamento e garantam a sobrevivência de vários setores. Mas como se têm comparado os esforços neste domínio?

Na zona euro, a diferença entre os gastos dos países do Norte e do Sul é mais um sinal da fratura europeia: os primeiros têm sido capazes de apresentar pacotes financeiros bastante mais ambiciosos que os segundos. Entre os motivos que o explicam estão a maior capacidade orçamental, mas sobretudo o menor endividamento e, por isso, a menor pressão expectável dos mercados financeiros.

Olhando para os números do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o impacto orçamental das medidas apresentadas em três países do Norte e três do Sul, a diferença não podia ser mais clara: Alemanha, Holanda e Finlândia anunciaram programas de apoio às empresas e trabalhadores de dimensão significativamente superior a Itália, Espanha e França.

Na Alemanha, as medidas representam cerca de 4,4% do PIB, na Holanda, 2,7% e na Finlândia, 1,7%. Por outro lado, Itália e Espanha, dois dos países mais afetados pela pandemia, apresentaram pacotes financeiros que representam 1,2% do seu PIB, sendo que o da França é de 0,7% do PIB. Estas são as medidas com impacto direto orçamental, por via de aumento da despesa pública ou redução da receita.
 

Diferenças entre as medidas apresentadas pelos países da zona euro. Gráfico publicado no Público.

Diferenças entre as medidas apresentadas pelos países da zona euro. Gráfico publicado no Público.

 

A pandemia pode, por isso, acentuar a divergência na zona euro entre os países do Norte e do Sul, alargando o fosso entre estes. Não surpreende, por isso, que sejam precisamente Itália e Espanha que têm defendido soluções europeias ambiciosas para enfrentar a recessão que se avizinha. Depois da proposta de mutualização de dívida para financiar a despesa com o combate à pandemia, liminarmente rejeitada pelos países do Norte, Espanha propõe agora um Fundo de Recuperação financiado através de emissão de dívida perpétua e cujos montantes devem ser transferidos para cada país “a fundo perdido”, de forma a não aumentar o endividamento. Uma solução que dificilmente agradará aos países do Norte, que apenas aceitaram até ao momento o recurso a empréstimos do Mecanismo Europeu de Estabilidade e do SURE (programa da Comissão Europeia para financiar as medidas de resposta ao desemprego).

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