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Novo Banco: “Se pusemos lá dinheiro, no mínimo tínhamos de lá ter um administrador”

Em entrevista à Antena 1, Catarina Martins afirmou que “o PS agora está muito incomodado porque está a acontecer aquilo que o Bloco disse sempre que ia acontecer” com o Novo Banco.
Catarina Martins esta segunda-feira em entrevista na Antena 1.

A coordenadora do Bloco deu esta segunda-feira uma entrevista à Antena 1, conduzida pela editora de política da rádio pública, Natália Carvalho. A recente polémica a propósito da nova injeção de capital no Novo Banco esteve em cima da mesa, também por causa da reação da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, às críticas de Catarina Martins sobre a atuação do governo.  

“Se o PS se sente incomodado com isso, a culpa não é de ser ano de eleições nem é do Bloco. A divergência não é nova e as críticas do Bloco não são novas”, afirmou Catarina Martins, insistindo que “o PS no governo  acabou por fazer com o sistema financeiro o mesmo que o PSD e CDS, porque não alterou a prática de limpar dinheiros privados com dinheiro público, não alterou a prática de dizer amém a tudo o que diz a UE”. Para a coordenadora bloquista, essa atuação do governo foi uma desilusão para “uma parte da população portuguesa que colocou uma expetativa grande fundada numa alteração da política”. Mas não para o Bloco: “Para nós não há desilusão porque estamos a avisar há anos e a fazer propostas”.

“Disseram-nos sempre que a solução da venda era a mais barata. E isto não é verdade”

“O PS agora está muito incomodado porque está acontecer aquilo que o Bloco disse sempre que ia acontecer. E não nos limitámos a dizer que ia acontecer, propusemos uma alternativa. Todos sabemos que tal como o sistema estava, não haveria soluções sem custos, isso era impossível. Mas havia duas escolhas: ou o Novo Banco ficava na esfera pública e o dinheiro público que era investido no Novo Banco teria critérios públicos para ser gerido, ou fazia-se o que se fez, que foi entregar um banco recheado de dinheiro público e com garantias para continuar a entrar dinheiro público, a um privado que vai gerir como lhe apetece”, resumiu Catarina.

“Disseram-nos sempre que a solução da venda era a mais barata. E isto não é verdade”, concluiu, sublinhando que a decisão da venda vai sair bem cara: “Além de pagarmos o banco, pagaremos todo o desemprego e destruição de capacidade produtiva que forem geradas por más decisões de gestão do Novo Banco que levem à falência empresas que têm emprego e capacidade produtiva”, tendo em conta que o Novo Banco é o que mais financia as PME’s que são responsáveis pela maioria do emprego criado em Portugal.

“O Estado mantém 25% do banco e nunca nomeou um administrador. Andamos a dizer isto há anos: se pusemos lá dinheiro, no mínimo tínhamos de lá ter um administrador a ver o que se passa”, acrescentou a coordenadora do Bloco.

“Precisamos que cresça a esquerda que não mudou de ideias, a esquerda que sempre disse que a austeridade era errada”

A entrevista passou também pela avaliação do mandato do atual governo e da ação do Bloco. Catarina insistiu que as pessoas têm razão quando dizem hoje que “era possível ir mais longe” na conquista de rendimentos e direitos. Mas lembrou que cada uma das medidas garantidas pelo acordo à esquerda — o descongelamento de pensões, aumento do salário mínimo, tarifa social da energia, descida do IRS, fim da sobretaxa, reposição dos cortes inconstitucionais ou dos quatro feriados que tinham sido retirados — parecem hoje “naturais e tímidas”, mas em 2015 “eram muito difíceis”. “Tivemos ameaças de sanções da União Europeia, tivermos o PS a dizer que isto não vai resultar, a direita a dizer que vinha aí o diabo”, sublinhou.

Mas uma mudança de políticas exige outra relação de forças que se traduza numa composição parlamentar diferente, prosseguiu Catarina, recordando que “80% dos deputados que estão agora no parlamento foram eleitos com programas que obedeciam à austeridade que tem sido a norma na União Europeia, que mantêm o status quo do ponto de vista estrutural financeiro e económico”.

Questionada sobre a possibilidade do Bloco vir a formar governo, Catarina respondeu que isso acontecerá “se tivermos votos para isso. O Bloco nunca irá para o governo por convite, irá pelos votos que tem nas eleições”, defendeu. E para isso, “precisamos que cresça a esquerda que não mudou de ideias, a esquerda que sempre disse que a austeridade era errada”.

Por fim, destacou a importância do debate sobre alteração às leis laborais que decorre na especialidade parlamentar. “Para nós é muito importante a reconstrução da contratação coletiva. Portugal tem salários baixos demais e uma grande desigualdade salarial”, afirmou Catarina, apontando o exemplo das “700 mil pessoas que têm trabalho noturno ou por turnos e não têm uma lei que proteja os seus direitos”.

“Há neste momento uma greve em curso na Petrogal, que tem passado despercebida na comunicação social, porque a GALP, que tem tantos lucros, está a tentar acabar com o contrato coletivo de trabalho para poder baixar os direitos dos trabalhadores”, apontou a coordenadora do Bloco, desafiando o PS a aprovar o reforço da contratação coletiva. “Quando ouvimos o PS a dizer que não quer uma economia com baixos salários, agora é o momento”, sublinhou.

“RTP tem problemas graves e este Conselho de Administração tem-se mostrado incapaz de os resolver”

A entrevista terminou com referências ao momento da empresa pública de tv e rádio e as propostas do Bloco para alterar a forma de nomeação da administração da RTP.

“A RTP tem problemas graves e este Conselho de Administração tem-se mostrado incapaz de os resolver. A RTP não está a cumprir a lei no que respeita à regularização de precários e às obrigações de serviço público”, resumiu Catarina. O Bloco propõe que a administração da empresa passe a ser nomeada pela Assembleia da República com parecer vinculativo do Conselho de Opinião “e que isso seja feito com um programa estratégico do que é que se quer na RTP”.

“Não nos esquecemos que mantemos na RTP os mesmos que foram nomeados por quem queria privatizar a RTP”. Quanto ao Conselho Geral Independente criado também pelo governo PSD/CDS, o Bloco propõe a sua extinção, uma vez que “não foi capaz de dizer uma palavra sobre os problemas da empresa, não serve para nada”, concluiu Catarina.

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