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Feirantes acusam Governo de os “deixar ficar para trás”

A decisão do Governo sobre novas regras para 121 concelhos proíbe nessas áreas as feiras e mercados de levante. Federação de feirantes acusa o executivo de lhes “tirar o pão” e convoca manifestação para Lisboa.
“Estamos esquecidos”, protesto de feirantes junto ao Palácio da Ajuda em Lisboa, a 4 de junho de 2020 – Foto de Manuel de Almeida/Lusa
“Estamos esquecidos”, protesto de feirantes junto ao Palácio da Ajuda em Lisboa, a 4 de junho de 2020 – Foto de Manuel de Almeida/Lusa

O presidente da Federação Nacional das Associações de Feirantes, Joaquim Santos, acusou o Governo de "deixar ficar para trás milhares de feirantes". "Só sairemos de Lisboa quando tivermos a certeza que podemos feirar", ameaçou o dirigente federativo em declarações à Lusa.

Joaquim Santos criticava a medida do governo de proibir as feiras e mercados de levante nos 121 concelhos que têm novas regras a partir desta quarta-feira, dia 4 de novembro.

"Fecham as feiras e mandam os portugueses para recintos fechados até às 22h", afirmou Joaquim Santos, considerando que é uma decisão “lamentável e discriminatória” e "uma vergonha num país democrático".

O presidente da federação dos feirantes lembrou também que os feirantes foram dos primeiros a fechar no primeiro confinamento, em março passado, salienta que “feirar” é uma atividade realizada ao ar livre e defende que os feirantes "sempre cumpriram as recomendações da Direção-Geral de Saúde (DGS)".

A decisão do Governo terá "consequências gravíssimas, uma verdadeira pandemia social" entre os feirantes, destacou ainda Joaquim Santos, declarando que a atividade envolve muito mais de 200 mil pessoas.

Será “fatal” para famílias e negócios

Também a Associação Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN) considerou a proibição das feiras e mercados de levante nos 121 concelhos uma medida “discriminatória”, que será “fatal” para milhares de famílias e negócios.

“Temos muito receio dos próximos tempos. Fomos apanhados de surpresa ontem [sábado] com este anúncio. Os feirantes de todo o país, e os do Norte não são exceção, estão numa situação gravíssima. Achamos que existe uma dualidade de critérios para as diferentes áreas do comércio. Não estamos contra que os outros trabalhem. Só queremos que nos deixem trabalhar”, declarou à Lusa o presidente da AFMRN, Fernando Sá.

“Estimamos que estas medidas afetem cerca de 80% dos feirantes da região”, afirmou ainda Fernando Sá, apontando que “de um total de 86 [concelhos] apenas 23 poderão” manter feiras e mercados.

Em comunicado, a AFMRN alerta que “se os feirantes não trabalham, não têm como gerar rendimentos para as suas mais elementares necessidades, como comer ou pagar as contas da água e da luz”, e que “se os feirantes não podem trabalhar, todos os fornecedores desses feirantes, a montante, deixarão de ter a quem vender e todos ficarão sem rendimento”.

“Serão cerca de 80 mil pequenos e médios empresários a ficar sem fonte de subsistência que lançarão no desemprego dezenas de milhares de operários. Porquê colocar os feirantes numa situação de iminente insolvência? Porquê discriminar os feirantes em relação ao comércio de rua, o tradicional? Porquê discriminar os feirantes em relação aos 'shoppings'? Porque só somos lembrados nas arruadas das campanhas políticas? Porque somos sempre o parente pobre dos vários setores do comércio?”, questiona ainda a AFMRN.

A associação recorda que quando o funcionamento das feiras voltou a ser permitido, foram definidos planos de contingência específicos. “Foram colocados dispensadores de álcool gel nas entradas e saídas dos espaços e em todas as bancas dos feirantes. O uso da máscara foi sempre obrigatório, tudo sob controle de vigilância e sob a orientação das respetivas delegações de saúde. Ora, decorridos cerca de seis meses após a reabertura e a implementação das regras, não foi detetado ou reportado qualquer caso de contágio ligado a esta atividade, sendo claro que não se pode concluir que esta atividade represente maior risco do que qualquer outra atividade comercial, como os centros comerciais ou as lojas de rua”, sublinha a AFMRN.

Nas redes sociais, twitter e facebook, o deputado José Soeiro escreve que “é difícil de compreender a decisão do Governo sobre as feiras e mercados” e questiona: “À luz da nossa experiência nestes meses, não seria possível delimitar os recintos das feiras e mercados, garantir planos de contingência, limites ao número de entradas e uso de máscaras, com gel à porta? Como tem acontecido, por exemplo, com o setor cultural.”

 

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